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Princesa e o avião

17 de junho de 2018

O primeiro avião a sobrevoar Princesa Isabel tinha a missão de bombardear a cidadela rebelada em 30, sob o comando do coronel Zé Pereira. Boatos corridos do Piancó davam conta de que Zé Américo, comandante da Polícia de João Pessoa, decidira explodir a cidade pelo céu, já que pelas estradas poeirentas de Tavares e do Canoa não havia jeito de entrar.

Todo mundo esperava as bombas, e, quando a zoada do avião quebrou a calmaria da hora do almoço, os cabras do coronel correram para o meio da rua empunhando e disparando os mosquetões de cinco tiros no teco-teco governista.

O avião, em vez de bombas, estava carregado de panfletos para serem jogados sobre a cidade, conclamando o povo à rendição. O piloto procurava a posição dos ventos para jogar os papéis de modo a fazê-los espalharem-se pela cidade, os cabras atiravam de baixo para cima e o major Feliciano, galego agigantado e contraparente do coronel, que havia despertado da sesta com a zoada, puxou a garrucha da cintura, apontou pra cima e disparou, no momento exato em que os panfletos desciam.

– Não matei, mas tirei as penas – exultou o major.

Depois de trinta, os aviões somente voltaram aos céus de Princesa a partir de 1950, com o brigadeiro Pedro Frazão, filho da terra que gostava de passar os feriados junto à família e costumava chegar pilotando o bimotor da FAB, zoadento e veloz. Pedro tirava fino na torre da Igreja e tirava gritos de espanto das goelas dos matutos.

O campo de aviação de Princesa, localizado no distrito de Lagoa da Cruz, obrigava o avião a  avisar da sua chegada na cidade, para que a comitiva de recepção fosse ao aeroporto buscar o visitante.

Como em Princesa, depois de 30, nasceu uma rivalidade quase sangrenta entre as famílias Diniz e Pereira, os aviões transportando aliados da primeira família tinham que sobrevoar a casa do velho Nominando, para que este mandasse o comitê de recepção buscar quem estivesse chegando. Quando se tratava de amigo dos Pereira, o sobrevôo acontecia ao redor do palacete da Rua Nova. E, igualmente, os Pereira faziam a carreata até Lagoa da Cruz para abraçar quem chegava.

Até que aconteceu aquela confusão na década de 60.

O avião passou por cima da casa de Nominando, deixando os Diniz ouriçados e prontos para a festa. Mas aí sobrevoou o palacete de Zé Pereira, também assanhando os pereiristas. Foi de novo até a casa de Nominando Diniz, voltou à casa dos Pereira, arrodeou o Cancão, passou de volta pelas duas trincheiras de intrigados e demandou para Lagoa da Cruz.

Claro que se estabeleceu a confusão. Cada ala política da cidade achava que a visita era dela e, por achar, sentia-se no direito de ir a Lagoa da Cruz buscá-la. Temeu-se até pela volta da guerra de 30, com os grupos se armando até os dentes para garantir seus direitos. A sorte foi a chegada de Socó motorista, trazendo na sua Rural Wills o fotógrafo e piloto Eugênio Marques, que chegava proveniente de Lagoa da Cruz direto para a pensão de Dona Isaura, depois de passear pelos céus da cidade tirando fotos encomendadas por um princesense saudoso residente em João Pessoa.

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