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A mulher de branco

8 de agosto de 2019

 

Petrônio Souto

Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar “personagens” para aumentar o índice de leitura de suas notícias. Uma dessas invenções foi a “Mulher de Branco”, um fantasma do gênero feminino que aparecia, à noite, na Lagoa do Parque Solon de Lucena, assustando passantes, motoristas e outros incautos.

Esse vulto do Outro Mundo aparecia à noite, caminhando tranqüila, perfumada e elegantemente vestida de branco, sempre de branco, no Parque Solon de Lucena dos anos 60 (foto 1). Logo, logo, alguém que habitualmente frequentava o parque se acercava dela para oferecer carona. Sem mostrar totalmente o rosto, a dama sentava-se ao lado do gentil cavalheiro e pedia para deixá-la em casa, na São Miguel.

No caminho, o motorista, naturalmente embevecido, dava um jeito de parar em algum escurinho para trocar carícias com a desconhecida, que nunca concordava em chegar aos finalmentes e sempre marcava um novo encontro para “outro dia, lá na Lagoa”. Feliz da vida, o motorista se apressava para deixar a nova conquista na segurança do seu lar.

Avança pela rua São Miguel, passa em frente ao cine São Pedro e dobra à direita, antes da Igreja da Conceição. Quando alcança a antiga Faculdade de Medicina, a jovem pede para o motorista dobrar à esquerda, e, para espanto do chofer, parar o carro no portão principal do Cemitério Senhor da Boa Sentença . Agradece a carona, dá um beijo de despedida e abre o portão do cemitério, como se estivesse entrando realmente em casa. De repente, não mais que de repente, some da vista do seu amor, já nos primeiros passos na alameda principal do cemitério (foto 2).

Meia-noite por aquelas bandas, encarando cena do sobrenatural, o motorista, quando não desmaiava, acelerava enlouquecido para casa ou para algum bar ainda aberto para contar seu pesadelo aos amigos e acalmar os nervos.

A história da mulher de branco da Lagoa ganhou sequência de empolgantes “reportagens”, virou uma espécie de minissérie de TV dos dias de hoje. Tomou conta de todas as rodas da cidade e fez a festa dos jornais e rádios locais, para desespero dos antros de boemia da cidade e satisfação das matronas pessoenses, cujos maridos nunca estiveram tão caseiros…

Quanto ao matreiro jornalista Juarez Félix, o inventor da Mulher de Branco, ele só fazia rir… Ria-se satisfeito com o aumento da circulação e vendagem do jornal…

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1 Comentário

  • Reply Marcos Pires 8 de agosto de 2019 at 18:10

    Das poucas coisas que ainda me incomodam é assistir um talento como esse de Petronio não ser mais aproveitado . O homem é fera .

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