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Concreto armado

10 de fevereiro de 2019

MARTINHO MOREIRA FRANCO

                                                  Para o engenheiro Mateus Franco Chaves

“Faltou-me firmeza no corpo, na alma e no coração. No corpo, porque as pernas não andam lá essas coisas todas. Na alma, por um vazio que se exacerba em momentos assim. No coração, pelo temor de sobrecarga”

Ariano Suassuna resumia ao seu modo uma situação que estudantes do antigo curso Ginasial enfrentavam ao ter que optar entre seguir o Científico ou o Clássico para ingressar na Universidade. Dizia ele, com seu habitual bom humor:

– No meu tempo só havia três opções: Engenharia, Medicina e Direito. Quem era bom em conta de somar, ia pra Engenharia. Não era o meu caso. Eu fazia seis contas de somar e obtinha seis resultados diferentes, todos errados. Quem gostava de abrir, de manhã, barriga de lagartixa, ia pra Medicina. Eu não gostava. E quem não dava pra nada, ia estudar Direito. Era o meu caso.

        No meu, nem para isso servi. Cheguei a ser aprovado em dois vestibulares, mas não frequentei além de duas ou três aulas na Federal e outras tantas no Unipê, em anos distintos. A opção fora pelo curso para quem se dera mal em Matemática e Biologia, sem contar Química e Física. E olhem que, no velho Liceu Paraibano, fui aluno de dona Daura Santiago Rangel, Antônio Pedro, Ivan Guerra e Carlos Pereira de Carvalho, respectivamente. Ou seja, apesar de mestres tão gabaritados, o aluno não havia dado para nada. Concluído, a duras penas, o Ginasial, e depois do fiasco no primeiro ano do Científico, segui para o Clássico, e, aí sim, comecei a me dar bem. Tive, no entanto, de parar ao final do segundo ano, pois me casei e passei a cumprir três expedientes de trabalho: na Assembleia Legislativa, no jornal “O Norte” e na Secretaria de Divulgação e Turismo. Quando fiz o Supletivo e os vestibulares, já não sobrava tempo para estudo de nenhum nível. Estaquei na categoria que só serve para enganar preenchedor de documentos: “superior incompleto”.

        Pois bem, agora, passados quase cinquenta anos, vejo meu primeiro neto, Mateus, depois de tirar de letra a Matemática nos cursos de primeiro e segundo graus, além de matérias específicas da grade curricular universitária, colar grau em Engenharia Civil. Isso após obter nota máxima ao apresentar sua monografia (ou TCC, Trabalho de Conclusão de Curso) à banca examinadora do Unipê. Não tive como comparecer aos dois eventos. Faltou-me firmeza no corpo, na alma e no coração. No corpo, porque as pernas não andam lá essas coisas todas. Na alma, por um vazio que se exacerba em momentos assim. No coração, pelo temor de sobrecarga. Mas, na volta para casa dos pais, abracei-o e beijei-o com todas as força s do meu ser. E disse-lhe que estarei sempre presente em cada projeto que ele assinar, em cada cálculo que anotar, em cada alicerce que mandar cavar, em cada argamassa que determinar, em cada estrutura que fizer levantar, em cada obra, enfim, na qual esteja cimentado o nome do engenheiro Mateus Franco Chaves. O avô aqui pode ter suas abstrações, mas o orgulho pela conquista do neto é de concreto armado.

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2 Comentários

  • Reply MARIA LÚCIA 10 de fevereiro de 2019 at 22:11

    Martinho Moreira Franco, quanta alegria você me transmite no seu glorioso retôrno ao blog do Tião. Quanta satisfação nesse depoimento caloroso pela formatura do seu neto. Sou sua admiradora há muito tempo, desde quando você ocupava esse espaço para brindarmos com seus comentários sobre a sétima arte.Parabéns, grande Martinho. Espero que continue. Maria Lúcia – Bananeiras-PB.

  • Reply Edivaldo de Sales Júnior 11 de fevereiro de 2019 at 10:09

    Parabéns, Tião. Martinho é um excelente profissional. Eu abria barriga de lagartixa….

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