Enterraram o pudor, foi-se a postura, acabou-se a compostura.

Quando se achava que a condução coercitiva de Lula por 200 policiais federais jamais seria superado, eis que Moro, Gebran, a PF e o presidente do TRF, de mãos dadas, puxam a descarga e lançam ao esgoto os últimos resíduos de credibilidade do judiciário brasileiro

Quem primeiro subiu ao picadeiro foi o mega juiz de primeira instância, que do alto de sua autoridade midiática ordenou por telefone rasgar o alvará de um desembargador do TRF. O juiz, fale-se a verdade, não tinha, nem tem mais jurisdição sobre o processo.
Mais grave: o juiz de férias em Portugal, totalmente fora de suas atribuições profissionais, mesmo assim a PF ( sempre ela) obedeceu. Surreal!

O espetáculo seguiu com Gebran ( elevou a pena de Lula quando o triplex da OAS foi penhorado a um credor), também de férias, tentando oficializar a determinação telefônica de Moro. Não podia!
Quem fechou o espetáculo foi o presidente do TRF, aquele que foi estrela de uma edição do JN, e teceu rasgados elogios ao relatório de Moro, que inclui como argumento condenatório uma manchete do jornal O Globo
Resumindo: Atendendo a uma solicitação de um HC, foram editados três alvarás de soltura por um desembargador de plantão, dentro de sua competência e todos aniquilados pela sôfrega ação de agentes, que já haviam trabalhado com muita determinação para mandar o ex-presidente à prisão, sem uma mísera prova
Do palanque de 28 anos de Supremo, o Ministro Marco Aurélio tritura qualquer dúvida: “O TRF é o revisor dos pronunciamentos da primeira instância. O titular da décima-terceira vara (Moro) nada tem a fazer. A parte que pode insurgir-se, no caso, é o Ministério Público”

A bem da verdade, o juiz, feito popstar na telinha da Globo, nunca deu a menor bola para essa história de hierarquia. Já havia grampeado a presidente da República (competência do Supremo) e praticou o absurdo de liberar a gravação, devidamente arquivada, para a imprensa com fins escancaradamente políticos. Como nunca foi molestado, seguiu firme na sua sanha compulsiva de manter preso o maior líder político do país

Registre-se no entanto, que um dos saldos do espetáculo de domingo é a convicção de que a credibilidade de Sérgio Moro, enquanto inquisidor impiedoso de Lula, ficou restrita ao reino dos coxinhas e ao universo dos oligofrênicos, dois mundos separados por milímetros de inteligência

De quebra, assanhou a militância adormecida pelo barulho da Copa; repercutiu com muito força em todos os veículos da imprensa internacional e despertou em todos os brasileiros com uma fagulha de racionalidade, uma migalha de consciência democrática, a certeza de que o judiciário está definitivamente empenhado em manter as diretrizes do golpe de 2016.

Sebastião Costa – médico