As campanhas políticas que testemunhei e agora posso contar (2)

Ruy Carneiro desembarcou em Princesa no pingo do meio dia na sua última eleição para o Senado.

Fazia calor, o sol rachava o calçamento, a rua praticamente deserta naquele horário tinha jeito de casa sem dono.

Ruy desceu do carro, olhou a extensa Avenida Coronel Marcolino Pereira, virou-se para a igreja, viu a praça do Coronel Zé Pereira e só não ficou sozinho, sem ninguém para recebe-lo, porque o farmacêutico Edezel Frazão saiu do balcão onde atendia receitas enviadas por Doutor Severiano e foi cumprimenta-lo.

Quanta diferença das vezes anteriores.

Quando disputou o Governo, quatro anos antes, o receberam num andor. Enfeitaram um jipe com faixas coloridas, colocaram na frente do carro um enorme carneiro e Ruy foi levado em passeata pelas principais ruas da cidade. Parecia procissão de santo, Ruy no carro ao lado de Aloysio Pereira e liderados acenando para o povo, que das calçadas balançava bandeirinhas e entoava modas de campanha.

Naquele dia Ruy estava só. Somente ele, a rua e Edezel. E a igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, que o recebeu de braços abertos. O velho senador ajoelhou-se, rezou em silêncio, depois saiu, despediu-se do único amigo que teve coragem de cumprimenta-lo no meio da rua e foi embora.

Dali a alguns meses saiu o resultado das urnas: Ruy foi eleito, Aloysio Afonso Campos perdeu.

Ganhou também em Princesa. Recebeu o voto silencioso do eleitor que, sem coragem de manifestar-se publicamente, guardou seu nome e o escreveu nas urnas.

Bem que Ruy dizia nas suas caminhadas solitárias: “Forte é o povo!”