Memórias

A casa de Cabral

31 de dezembro de 2024

A nossa festa de fim de ano se limitava àquela rua pequena e mal-cuidada, a Rua de Cabral, do velho e inesquecível tribuno das últimas noites dos anos que findavam.

O pipocar dos fogos lá pras bandas da praia chegava como um som distante que não despertava emoções.

Logo cedo, o velho acendia o fogo da churrasqueira improvisada numa roda de carro e colocava a primeira leva de carne para assar. E o cheiro de carne assada se espalhava pela redondeza, atraindo o faro de Antonio Doido, o maior comedor de churrasco que conheci em toda minha vida. Engolia sem mastigar, fosse carne mole ou carne dura.

E a família ia chegando aos poucos. Um trazia a garrafa de vinho, outro o litro de Ron Montila, uísque que é bom, nem pensar, era bebida proibida. Mas cerveja podia. Era a preferida do velho.

Nesse tempo a Corrida de São Silvestre acontecia perto da meia noite. E terminava com a última badalada do relógio da igreja. A turma já bastante animada se postava diante da TV torcendo pelo brasileiro pernas de cambitos que puxava a fila de corredores. E quando a corrida terminava e o ano novo se anunciava, Cabral, com cerveja e tudo, proferia seu tradicional discurso que terminava sempre com o anúncio: “Mais um ano se foi e eu não queimei o fuzi”.

Isso faz tempo.

Cabral nem existe mais. Queimou o fuzi numa manhã qualquer de ano velho e levou com ele as saborosas festas do Ernani Sátyro.

 

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1 Comentário

  • Reply Toinho 1 de janeiro de 2025 at 01:08

    Feliz ano NOVO, TIÃO, TAMO JUNTO!!

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