Miguezim de Princesa
É grande a movimentação nos salões de beleza, clínicas de estética e lojas de lingeries finas do Centro-Oeste e Sudeste. Não se trata, desta vez, de um feriado prolongado ou de uma festa sertaneja com cachê gordo. O alvoroço tem nome pomposo e itinerário certo: XXIV Marcha dos Gestores e Legislativos Municipais, a romaria dos prefeitos e vereadores rumo à Jerusalém do orçamento: Brasília.
Enquanto no Centro de Convenções Ulysses Guimarães ecoam discursos sobre piso da enfermagem, emenda impositiva e consórcios intermunicipais, nos bastidores do Plano Piloto desenrola-se outra agenda, paralela e não menos ambiciosa. As acompanhantes de luxo, finas damas da diplomacia noturna, vestem-se com suas melhores intenções e partem para a própria marcha – a marcha da sedução municipalista.
Munidas de perfume importado e promessas de afeto passageiro, elas miram os corações solitários e os cartões corporativos dos gestores do interior, aqueles que, em suas cidades, ainda andam de Hilux como quem desfila numa passarela. Ingênuos, os nobres representantes do povo mal sabem que Brasília não é apenas a capital da República, mas também a Disneylândia do pecado institucionalizado.
Ali, entre um coquetel da CNM e uma palestra sobre o novo PAC, vereadores e prefeitos serão assediados com um tipo de lobby que dispensa licitação. Uma massagem aqui, uma taça de espumante ali, e pronto: está aprovada a PEC das carícias transitórias.
Diz-se que o Eixo Monumental ficará congestionado. Mas não será só de ônibus fretado e carro oficial. Também haverá fila em hoteis e motéis, onde se negociam afetos efêmeros sob o som ambiente de Marília Mendonça e ar-condicionado 18º.
No fim da marcha, alguns gestores voltarão às suas cidades com propostas, pastas e panfletos. Outros, com um contato novo no WhatsApp e uma dúvida existencial: “Foi amor ou assessoria?”
Brasília, mais uma vez, cumpriu sua vocação: acolher os filhos da pátria e apresentá-los às delícias da capital.
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