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Acabou-se o que era doce

23 de junho de 2025

Aos olhos do menino as festas de São João eram coisas que não estavam ao seu alcance. Via de longe os salões enfeitados, as palhoças coloridas, os pares fantasiados dançando a quadrilha, os bares cheios de gente importante bebendo e comendo. Via com os olhos e lambia com a testa.

Consolava-se com as fogueiras e os fogos de Pedro Fogueteiro perseguindo balões coloridos que sumiam no espaço na direção de Deus, diziam.

E terminava a noite feliz com o pedaço de bolo com kisuco que o pai zeloso buscava na barraca de Cecília Mandaú.

Com o tempo acostumou-se a outras imagens, fez do bolo doce das pontas de rua seu pouso de rapaz que buscava as primeiras aventuras de amor.

Não tinha acesso aos grandes bailes dos dois clubes da cidade, espaços dos ricos e dos que de ricos se fingiam. Mas não os invejava, tinha nos acordes da sanfona de Mané Tocador, na voz de João Caiti e no pandeiro bem marcado de João de Né o que precisava para varar a noite homenageando o santo do carneirinho.

Até que um dia chegou-se aos ambientes mais sofisticados, ao São João tocado pelo saxofone mágico de Manoel Marrocos, aos primeiros namoros chiques.

Mas o São João era o mesmo, era um só, nas ruas as fogueiras acessas, na porta da igreja os balões que Tozinho enviava ao céu, as barracas enfeitando a passarela da Rua Grande, as quadrilhas, os bailes, os compadres e comadres ao redor da fogueira, o cheiro de milho assado, as juras de amor.

Eram, disse e eram mesmo, porque não são mais. Acabou-se o que era doce.

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