Alguém aí é servido?

A última vez que conversei com o amigo Dorgival foi numa festa que se promovia para Ariano Suassuna. Eu estava lá como corregedor da Procuradoria Geral do Estado, Gilberto Carneiro, então Procurador Geral, era o mestre de cerimônia, Dorgival sentava ao meu lado na plateia, perguntou-me alguma coisa, eu respondi, ele não escutou e esbravejou em voz alta: “Ser velho é uma merda”. Disse e saiu do auditório, sob o olhar espantado de Ariano.

Dias depois o meu amigo se foi, enterraram-no em Taperoá, sua terra natal, aliás, uma terra que ele amou e não soube corresponder pois colocou na entrada da cidade um painel com os dizeres: “Taperoá, terra de Ariano e de Vital Farias”. Mas quem ama perdoa e Dorgival, por amar demais o seu chão, deve ter perdoado.

Eu faço 74 anos no mês de dezembro, me sinto um jovem, mas há sempre alguém  lembrando que não sou mais tão jovem quanto penso. Uma saída mais demorada gera preocupação, acham que eu posso cair e quebrar o osso da perna, coisas assim.

Ficamos em casa, eu e a velha companheira de tantos anos. Agora em maio completaremos 47 anos de casados, juntando os três de namoro, chegamos aos 50.

Voltamos aos primeiros tempos quando começamos, somente os dois, essa aventura de vida. Os filhos partiram, casaram, cuidaram de construir seus espaços. De vez em quando alguém aparece, dá o ar da graça, do mesmo jeito que eu fazia quando, mais taludo, ia à casa de dona Emília assinar o ponto.

Eles deverão passar por isso mais adiante, é a lei natural da vida, a velhice chega pra todos, aliás, como dizia o finado Luiz de Santa, só não envelhece quem morre.

Eu não ligo, vou levando o tempo, mangando dele, achando graça e aguardando o desenlace. Até porque se fosse me preocupar morreria do mesmo jeito.

Enquanto o final da estrada não chega, vou fazendo o que gosto de fazer. Agora mesmo vou parar de escrever essas besteiras e tomar uma lapada.

Alguém é servido?