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Domingueiras do Tião

4 de maio de 2025

FIZ PARTE DESSE TIME

Fiz parte daquele mundo, era do time dos pequenos mas testemunhei parte do glamour. O Norte era a referência de poder na Paraíba nos gloriosos tempos de Marcone Góes. Governador para ter acesso a sua sala tinha que marcar audiência. E Marcone recebia as autoridades mais destacadas sendo o destaque entre elas. Presidente de Tribunal, presidente de Assembleia, governador, até ministro de estado chegavam até ele de cabeças baixas, pedindo licença, fazendo referências.

O prédio onde o jornal se instalara era suntuoso, o acesso se dava por uma rampa, parecia aquela do palácio de Brasília, a do presidente. Lá dentro havia um corredor, à direita ficavam as salas do editor, do superintendente e a do diretor executivo. O editor era Evandro, Teócrito o superintendente e Marcone o rei. A turma da redação se abrigava em imenso salão à esquerda. Era um espetáculo ver as mesas com as máquinas de datilografia espalhadas pelo salão, lá atrás uma mesa maior para o diagramador e perto dela Juarez Félix, já velhinho, dava os retoques finais aos textos policiais alinhavados por Zé de Sousa.

Ainda assisti a algumas reuniões presididas por Marcone Góes. Falei reuniões, mas seria melhor dizer palestras do chefe para comportados subordinados. Ele ditava as ordens, apontava os rumos. Aos outros cabia executar.

Era simpático e elegante, não largava o paletó, a camisa de mangas longas e a gravata.

Mas um dia houve o atentado. Um governador atirou num ex-governador e O Norte tomou o partido do mais fraco.  Enquanto os outros jornais e as emissoras de rádio concorrentes tratavam o agressor como herói e o agredido com o bandido, O Norte de Marcone Góes chamava o feito à ordem e cobria o acontecido com o mais legítimo e verdadeiro jornalismo.

Isso desagradou o poder, que foi pra cima, preparou uma armadilha, Góes caiu nela e os Associados terminaram o seu reinado.

Vieram os estrangeiros que só cuidavam do apurado para enviar aos patrões de outras plagas, veio a decadência, veio a morte por desnutrição. O Norte fechou, seu prédio foi abandonado e finalmente invadido por sem tetos que o transformaram naquela favela horrorosa que escandaliza as vistas de quem é obrigado a passar em frente.

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2 Comentários

  • Reply MAURILIO BATISTA DIAS 4 de maio de 2025 at 08:16

    Só pra registrar,na época do atentado além de O Norte tinha a rádio Sanhaua,com o programa debate sem cencura ,comandado pelo nosso amigo.Antonio Malvino ,que não se curvou as tentativas e ofertas para mudar de lado.

  • Reply José 4 de maio de 2025 at 11:10

    A queda d’O Norte começou na eleição de Ronaldo Cunha Lima ao governo do estado, em 1990. Marconi Góes confiou na eleição de Wilson, dada como certa, enquanto o Correio da Paraíba travava a batalha de vida ou morte contra a volta de Braga ao poder por causa do assassinato de Paulo Brandão. Uma vez eleito, Ronaldo tratou O Norte a pão e água, enquanto o Correio se fartava com finos manjares. O resultado foi a ascensão do Sistema Correio e a agonia que levou à morte dos Diários Associados na Paraíba. Os “estrangeiros” adiaram o desfecho fatal em duas décadas.

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