O domingo amanhecia e a cidade continuava dormindo. Quem não conhecesse o lugar pensaria que era desabitado. A quebrar o silêncio havia o som do sino da igreja. Chamava para a missa das sete. Assim que o sino jogava no ar o som que invadia a cidade e alcançava a Serra do Gavião, velhas beatas, vestidas de preto e cobrindo as cabeças com chales da mesma cor saíam das suas casas em direção ao templo.
Aos poucos as portas das casas iam se abrindo, cabeças ressacadas apareciam nas janelas a espiar o tempo. Manezim enchia sua carroça com as bugingangas de Luiz Marques e as transportava ao caminhão de Silivestre, já de motor ligado para levar os feirantes a São José. Um cheiro de pão quente saia da padaria de Rafael Rosas . Aos poucos o silêncio era quebrado pelo caminhar de vendedores, de beatas, de gente do povo. A cidade deixava de ser cemitério, ganhava vida, despertava.
Na igreja, Frei Anastácio se paramentava para rezar a missa. João Mandu, fazendo dueto com Odívia, cantava hinos ao som da sarafina tocada por Dona Irene, séria e compenetrada senhora, irmã de padre e viúva de comerciante, mãe de vários e várias, agora devota dos milagres e favores de Nossa Senhora do Bom Conselho.
Genésio se postava na porta da igreja, não entrava, sequer rezava, matava o tempo enquanto não chegava a hora de juntar amigos e pinguços em torno das suculentas traíras fritadas em óleo quente no Bar de Maria do Ó. A farra só terminava ao meio dia quando Genésio, cansado e vencido, deitava a cabeça na mesa e pegava no sono.
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