Por Chico Pinto
Eu tenho orgulho!
Muito orgulho por ter vindo ao mundo através do casal Duca e Naninha Pinto, que me ensinaram os caminhos da sinceridade, do respeito e de lutar com afinco na busca de dias melhores.
E isso só seria possível através da leitura e dos estudos nos bancos escolares.
Tenho bastante orgulho da minha infância vivida no Sertão entre às cidades de Itaporanga, São José de Piranhas e Sousa.
Esta última me adotou e lá finquei os pés no chão batido durante boa parte da minha infância e adolescência.
Orgulho tenho de “muitão” pelos amigos que conquistei e ainda hoje preservo o respeito, amizade e carinho por eles e, mais ainda, por aqueles que já partiram.
Orgulho imensurável sinto n’alma pelo aprendizado transmitido pelos meus professores do saudoso e inesquecível Estadual da Rua da Areia.
Uma conquista nossa, em um ano eleitoral, quando exigimos, em pleno comício na Coronel José Vicente, ao então governador João Agripino, que não nos deixasse sem o segundo grau.
De cima do palanque e sob a pressão e aplausos da estudantada o “Mago de Catolé” passou à responsabilidade para o então secretário da Educação, Antônio Mariz.
Mariz, acatou as ordens, e, em pouco tempo, saímos do Grupo Escolar “Batista Leite”, que à época, na parte noturna, nos servia de abrigo sob a comando do diretor e Promotor Público da cidade, Aluísio Bonavides Barros, um homem de baixa estatura física, mas de uma valentia e envergadura moral e de caráter irretocável.
É bom ressaltar que, naquela época, só os afortunados, filhos das tradicionais e ricas famílias, tinham condições de saírem da cidade para estudarem em outros centros mais ativos na educação.
Meio caminho andado, para por os pés em uma universidade, seja em Campina Grande, João Pessoa ou em Recife.
Aqueles de família modesta, ao concluirem o primeiro grau, só tinham como opção à Escola Comercial Cônego José Viana, dirigida com mão de ferro por Toinho Nóbrega, um educador cordato, porém exigente, que nos permitia, através do corpo docente, um ensino técnico excelente, mas, pago no final de cada mês, por nossos pais.
Quem não podia pagar tinha que se contentar, no currículo, apenas com o primeiro grau e no máximo o curso técnico de Contabilidade.
Havia, ainda, o Colégio “10 de Julho” do professor Sinhozinho, cuja grade escolar também só oferecia o primeiro grau.
Dedicado apenas ao sexo feminino, naqueles anos 70, tinhamos, ainda, o Colégio das Freiras, e se a memória não me falha, só lecionava até o curso Pedagógico.
Foi daí que um grupo de abnegados, tendo à frente Eilzo Matos e o Padre Martinho Salgado, com o apoio de Mariz, já deputado federal e do prefeito Clarence Pires, através de uma fundação dirigida pelo mestre Afonso Pereira, deu os primeiros passos para a criação do Curso de Direito, através da Fundação Francisco Mascarenha, dirigida pelo professor Afonso, hoje federalizado e vinculado à UFCG.
Centenas de advogados já saíram daquele Centro Superior de Ensino, muitos deles oriundos do velho Estadual e de cidades do Ceará, bem como, do Rio Grande do Norte.
É por esse tipo de ação que tenho orgulho da bravura e dos visionários da Cidade Sorriso.
No meu caso particular, por não aguentar mais os Bares de Zé Mendes, de Zé Paulo, Morais e do Bigode, contei com o aconselhamento do professor Zé Brito, que na mesa de bar me desviou do meu intento de viajar para São Paulo, em busca de trabalho.
Após essa conversa com o amigo Brito, mudei de ideia, apesar de já ter adquirido passagem só de ida para São Paulo no ponto de venda de seu Eliezer.
Ao desistir voltei para o posto e pedi a seu Eliezer a devolução do valor pago. Ao saber que havia mudado o meu intinerário e vinha para a capital a fim de estudar, ele, após me parabenizar pela minha nova atitude, além de devolver o valor que havia pago, ainda me presenteou com a passagem gratuita para João Pessoa.
Contei, ainda, com a ajuda de alguns amigos que permitiu que eu me mandasse para João Pessoa, onde, de início, ao perambular pela Casa do Estudante em busca de uma vaga, tive que ficar ao relento por causa da superlotação.
Fiquei desesperado pois o pouco dinheiro que dispunha já estava nos finalmente.
Por sorte do destino, contei com a bondade de Paulo Marques de Sousa, Paulo de Zuca Gordo, que iria servir o Exército no Recife, e ao ouvir o meu lamento, com aquele seu jeito característico, olhou nos meus olhos e tascou: ” bicho de sorte. Viajo hoje a noite e vc irá ocupar a minha vaga na República, no Edifício Mateus Zácara, na Duque de Caxias,
cujo pagamento adiantado por vários meses ja havia sido feito. Ainda me levou ao restaurante de uma carioca(depois conto esta aventura), onde também já tinha pago três meses de rango.
A bondade de Paulo ainda hoje guardo no meu coração. Foi ele
que me deu abrigo e comida nos primeiros meses na capital.
Passado este período inicial, recebi o indispensável apoio dos meus amados tios e padrinhos Quintino e Otávia Henrique, esta, irmã do meu pai, até me estabelecer, financeiramente, como repórter no jornal A UNIÃO, cuja vaga consegui após um teste de reportagem.
Na profissão de jornalista, trabalhava de dia, o que me permitia estudar à noite no Lyceu Paraibano. Em 1975, obtive aprovação no vestibular de Direito na UFPB.
Daí, quando olho para o passado, jamais poderei esquecer dos meus sábios professores do Estadual da Rua da Areia, sob a “batuta” do professor Joaquim Oliveira e do Dr. Sabino Lopes, que punham ordem e amenizavam as nossas peraltices de adolescentes rebeldes, porém, respeitosos com os nossos mestres.
E por falar em mestre tenho que lembrar dos ensinamentos que me deram base pedagógica para acompanhar as disciplinas do Curso Clássico do Lyceu.
Seria um ingrato se não agradecesse aos abnegados mestres do nosso Estadual a exemplo de Neumira Abrantes, Rosena, Chico Dantas, Neuma Ramalho, Aspásia, Sindeu, Joaquim Oliveira, Úrsula, Padre Dagmar, Francisquinha, Sônia Sarmento, dona Edna e outras mais.
Seria uma injustiça esquecer da secretária Aldenir Afonso e do “bedel” Nêgo de Pedro Franco.
Dos colegas mais próximos e parceiros nos nossos desatinos, em nome de todos, cito o meu amigo Róger Bezerra, hoje um advogado, funcionário federal e pai de família exemplar.
Não posso deixar de citar as nossas colegas de classe e amigas a exemplo da saudosa Edinha de Zé Vieira, Gracinha Oliveira, Nadja Olímpio, Francinilda, as Conceição Ramalho e Pinheiro, Terezinha de Tão do BNB. Edielza, Lauremilia, Fracineide, Neta Estrela, Tica Coura, Francisca Estrela e tantas outras que a memória me falha.
É daí que vem o meu orgulho e uma imensa saudade daqueles velhos tempos do velho e exemplar Estadual da Rua da Areia.
Finalmente, com alegria e satisfação, digo sem medo de mentir, que a melhor Banda Marcial naquela época na cidade era a nossa.
Em frente, marche!
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