Cultura

Tarcísio Pereira comemora 30 anos de literatura em festa literária na Academia Paraibana de Letras

12 de novembro de 2025

O que pode se passar na cabeça de alguém que, ao acordar de repente, descobre que está preso num túmulo, depois de ter sido enterrado vivo?

Partindo desta pergunta, o escritor e dramaturgo Tarcísio Pereira escreveu e publicou, nos idos da década de 1990, o romance intitulado “Agonia na Tumba”, na época publicado pela Editora Universitária da UFPB, em duas edições que esgotaram rapidamente.

Na noite desta quinta-feira (13), a mesma obra será relançada, agora numa edição comemorativa que marca os 30 anos de estreia do autor na literatura, justamente com essa obra que agora é reeditada pela editora Selinho Editorial, do poeta e escritor Antônio Mariano de Lima. O evento acontecerá na sede da Academia Paraibana de Letras (Centro Histórico de João Pessoa), a partir das 18 horas.

O evento é aberto ao público e, além do lançamento de Agonia na Tumba, haverá exposição de outras obras do autor publicadas ao longo dos últimos 30 anos, além de outros títulos da editora.

A apresentação do livro será feita  pelo escritor, poeta e acadêmico Thélio Farias, membro da APL e presidente da Academia de Letras de Campina Grande. O evento será animado pela viagem sonora do instrumentista e vocalista James Nóbrega, com amplo repertório da música clássica e contemporânea.

O autor, Tarcísio Pereira, também estará comemorando o seu aniversário de 60 anos, justo na mesma data, em evento cultural que marca a sua estreia como escritor, desde sua estreia com esse livro que causou um grande impacto junto à crítica e aos leitores.

O livro Agonia na Tumba é um romance que conta a história de um homem que foi enterrado vivo. Tudo se passa a partir do momento em que ele desperta dentro do caixão e já sepultado, e passa a lutar pela vida e por sua sobrevivência num estado de delírios e alucinações em que evoca várias situações para entender o motivo de encontrar-se ali. “Psicologia, mistério e suspense dão o tom dessa narrativa repleta de situações novelescas e surpreendentes”, segundo palavras do próprio autor.

Na época de seu lançamento, o livro foi bem recepcionado pela crítica tanto na Paraíba como em outros estados, todos com a opinião de que se trata de uma alegoria sobre situações de dificuldades e luta por sobrevivência.

Abaixo, alguns comentários sobre esse trabalho divulgado na imprensa da época e até mesmo nos dias atuais:

 

FORTUNA CRÍTICA:

“Li atentamente o romance Agonia na Tumba, que a Universidade da Paraíba escolheu para inaugurar uma atividade editorial importante. O romance é uma realização difícil, operada com grande domínio técnico, guardando sempre a marca do escritor já dominando amplamente o seu oficio.”

(Nelson Werneck Sodré)

“Novela surpreendente, carregada de lances inesperados, escrita com mão de mestre. Enriquece de forma positiva a ficção de hoje. Um verdadeiro achado.”

(Henrique L. Alves)

“Apanhei o livro para dar uma olhada, começar a ler um pouco, mas fiquei grudado nas páginas e só o larguei após a última linha. Realmente é uma narrativa fascinante pelo insólito, pelo inesperado, pela angústia, pelo humor, pela agilidade, pela penetração etc….”

(Fernando Peixoto)

“O livro tem um elemento poderosíssimo, que arrasta o leitor não-iniciado para dentro de si como um Édipo Rei ou um Hamlet: mexe com um arquétipo! (…) Romance de suspense, Tarcísio opera nele com virtuosismo impressionante a limitação de elementos que se propôs usar no tratamento do tema: o de um homem que acorda dentro de um caixão de defunto e já enterrado.”

(W. J. Solha)

“Agonia na Tumba, primeiro romance do jovem escritor paraibano Tarcísio Pereira, é, na verdade, temática e ideologicamente, uma intensa metáfora da própria condição humana no mundo moderno e contemporâneo. Há algo nele do homem solitário e anônimo, do homem sem saída, herói problemático que tanta tinta fez correr pelo rio verbal que nasce em Joyce, Kafka, Faulkner e tantos outros criadores delirantes da modernidade.”

(Hildeberto Barbosa Filho)

“Este não é apenas um romance bem escrito do ponto de vista ficcional, capaz de prender o leitor e conduzi-lo sofregamente até à última palavra, mas é também uma obra densa, psicologicamente bem estruturada.”

(Altimar de Alencar Pimentel)

“A fragmentação da escritura, os cortes, a simultaneidade e alternância dos registros, a verticalização do foco narrativo em primeira pessoa coadunam-se ao tortuoso processo de escavação mnemônica, em consonância com a impotência do agonizante narrador-personagem. E traduzem um seguro domínio da forma literária, que não deixa dúvida quanto ao talento desse novo romancista paraibano.”

(Sônia Lúcia Ramalho de Farias)

 

“Tarcísio Pereira, com este livro, não apenas homenageia a tradição simbolista, mas a revive e a recria com uma voz contemporânea e autêntica. Agonia na Tumba é um funesto e deslumbrante exemplo de prosa poética, um testemunho de que a mais profunda beleza pode, e muitas vezes deve, ser encontrada na própria agonia.”

(Daniel Osiecki)

 

A EDIÇÃO:

Selinho Editorial é uma marca registrada do escritor, poeta e editor Antônio Mariano criada para publicações de suas obras e edições pontuais de escritores relevantes da literatura local. Pontuais porque não é o projeto competitivo no mercado editorial, sem intenção, inclusive, de construir um vasto catálogo. É, portanto, um projeto fechado, em que os autores não vão ao encontro do editor, mas o contrário.

Além das obras do próprio editor, Selinho Editorial prossegue agora trazendo a luz o livro Pão com sabor de poesia, de João Batista de Brito, e a 3ª edição de Agonia na tumba , livro que marca a estreia literária de Tarcísio Pereira.

 

TRECHO DA OBRA:

“Água despenca sobre os meus cabelos.

Domingo de piquenique, ufa. É gostosa a água, caudalosa água, espumas que descem e gemem na cascata, elas vão quedando sobre as pedras lisas e gerando bolhas que trafegam em mim, agraciando nervos e tensões. Elvira está ali, adiante, estirada na grande laje de cima. Elvira está de maiô e usa óculos escuros. Meu Deus, como Elvira é linda! Faz mais de dez anos que estamos casados – mais de dez anos cansados –, mas Elvira não perdeu a sua boniteza.

Água, água, água. Entra água nesta sepultura. Que alívio, que paz. Tão agradável lembrar!

Queríamos o piquenique, Elvira e eu. Um fim de semana, pra recomeçar. Propus um retiro para o litoral, somente nós dois. Hotel na beira da praia, pousada com cheiro de peixe fresco, qualquer coisa assim. Mas ela refez o plano e, manhã seguinte, veio me lembrar da nossa propriedade, que a gente andava distante e nunca mais tinha ido ao sítio. Que era necessário revisitar o lugar, a pequena herdade que papai deixou, levar as crianças e aproveitar o domingo. Não gostei, eu queria o mar e um quarto de casal – as crianças ficariam com a sogra, mas ela impôs o seu novo plano e fomos para a granja.

Água, água, água. Ufa! Piquenique, ufa! Manhã de domingo – as crianças sorriam tanto!

O casamento gelava, afundava no diabo de uma rotina indigesta que às vezes temperava tédio com ciúme. Na estrada, durante o percurso ao sítio, resvalei num assunto fora de cautela enquanto dirigia, sem nem dar conta da presença dos filhos na bancada de trás.

– Nel de Holanda se separou de Regina – eu disse. – Você soube, querida?

Elvira, distanciada, olhava o mundo passar pela janela do carro. Nem aí para a novidade, ou como alguém que não ouve. Insisti com a mesma informação, Nel de Holanda estava separado, ela apenas sacudiu os ombros e friamente falou:

– E eu com isso?

– Você não se importa com a sua amiga?

– Que amiga?

– Estou falando de Regina, a ex de Nel.

– Eu com isso? Nem é minha amiga. Problema dela e de Nel.

Sequer me exibiu o rosto, manteve-se olhando o mundo. Continuamos calados e seguindo estrada, um pouco à frente eu perguntei o pior:

– Estive aqui pensando, Elvira… Se eu morresse, você ficando viúva, você teria coragem de casar com Nel?

Agora me olhou bruscamente, feroz. Até abaixou os óculos, talvez tenha lido as minhas suspeições e apimentou assim:

– Eu jamais sairia de um bêbado para entrar em outro.”

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