opinião

Vale Tudo – a arte imitando a vida

19 de outubro de 2025

Ulisses Barbosa – jornalista

Como é novela, vale tudo! Inclusive a ressurreição surreal de Odete Roitman, muito surreal! Assisti a novela original e agora o capítulo final da versão. Antes de dar meus pitacos “teledramatúrgicos” vou dar uma passadinha em 1988… Redemocratização. Povo na rua. Movimentos populares, lutas por mais direitos e liberdades, geopolítica global se reformulando – fim da guerra fria…Constituição Cidadã!
A novela original causou o mesmo frenesi que a versão em torno da pergunta: Quem matou Odete Roitman? Mas havia todo um contexto político social, uma efervescência humana e o texto de Gilberto Braga (em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Basseres) conseguiu traduzir esse Brasil, os anseios das ruas e suas contradições.
Você ia para o trabalho, atividade política, movimentos sociais, movimentos estudantis enfim, tudo o que a sociedade mobilizada entendia ser o desfecho necessário para virar a triste página da ditadura e depois, como descanso do guerreiro, ia assistir a novela das oito reafirmando que o Brasil do Vale Tudo precisava acabar, e que precisávamos dar uma resposta também a pergunta original da novela, vale a pena ser honesto no Brasil? Depois de um dia de luta, SIM, valia a pena demais!
Dito isso, voltando à “vaca fria”, vamos aos pitacos. No geral valeu o discurso nacionalista (Ivan com Bartolomeu), hilárias – mas realistas – todas as cenas do Marco Aurélio e Leila (vão render um explosão de “memes” nas redes como praticamente uma homenagem a Bolsonaro, kkkkk!) e valeu também o papo de empreendedorismo de Raquel e Poliana (eu acredito nas possibilidades reais). No mais a versão de Vale Tudo, considerando o final e as várias críticas às mudanças nos eixos centrais da história, faltou mais ligação com o atual contexto político, social, ambiental e econômico brasileiro e até mesmo geopolítico. Claro, corrupção, oportunismo, ambição, trapaças, arrogância, desonestidade entre outras mazelas humanas – representados muitos bem por Maria de Fatima/Cesar/Olavinho – que ainda encontramos em nossa sociedade revelam que há muito o que avançar enquanto sociedade e, principalmente, enquanto gente.
De qualquer forma, para fechar a resenha, destacar duas realidades temporais, aliás um diferencial em 88, o povo lutava por direitos e liberdades nas ruas sabendo exatamente contra o quê se lutava e o quê se reivindicava. Hoje, além das lutas tradicionais contra neoliberalismo ( um capitalismo ainda mais violento socialmente) , ainda temos que enfrentar a desinformação nas redes sociais, mais um campo de luta, parafraseando o capitão Nascimento, “o inimigo agora é outro….”.
Dado e recado, como diria o atilado jornalista Tião Lucena, que certamente não perdeu o capítulo derradeiro da trama, “vou-me a mim” deixando as perguntas que continuam vivas e esperando respostas; Vale a pena ser honesto no Brasil? ou Vale Tudo?

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