opinião

A CIDADE DOS SEIS NOMES

26 de novembro de 2023

Por GILBERTO CARNEIRO

O LEITOR sabia que a região aonde fica localizada João Pessoa possuiu, ao longo da sua história, seis nomes referenciados por circunstâncias diferentes? São Domingos, por influência indígena; Nossa Senhora das Neves por ascendência dos portugueses, Felipéia, por autoridade dos espanhóis, Frederikstadt, ou Frederica, por força dos holandeses, Paraíba do Norte por domínio dos colonos e João Pessoa, por mão da Revolução de 30.

Então, vez ou outra, surgem debates, discussões e sugestões de mudança no nome da nossa querida capital. Não há consenso sequer sobre o debate, tendo em vista que muitas manifestações consideram irrelevante a discussão ante uma série de temas de maior importância prática para a vida dos cidadãos paraibanos.

João Pessoa é a capital do estado da Paraíba com uma população de 833.922 mil habitantes, de acordo com o censo de 2022. A região inicialmente denominada São Domingos era habitada pelos índios, influenciados por traficantes franceses que exploravam o pau-brasil, interessados em considerá-los hostis a exploradores de outras nacionalidades. O rei de Portugal temendo que os franceses se estabelecessem na região levou a efeito várias tentativas de colonização.  Em março de 1585, chegava à Paraíba Martim Leitão, Ouvidor Geral da Bahia, chefiando uma expedição que deveria restaurar os fortins da barra e desalojar os franceses de diversas posições. Em 2 de agosto do mesmo ano, nova tentativa, chefiada pelo Capitão João Tavares, que se aproveitou das disputas surgidas entre as duas tribos que habitavam as margens do Paraíba e rios próximos, conseguindo insinuar-se entre os Tabajaras e firmar um pacto de amizade com o seu morubixaba o índio Piragibe. O acordo verificou-se no dia 5, numa colina à direita do rio Sanhauá, pequeno afluente do Paraíba, aonde está localizada a cidade de João Pessoa. Em homenagem ao santo do dia, o lugar tomou o nome de Nossa Senhora das Neves, até hoje padroeira da cidade. Em honra ao rei da Espanha, que dominava Portugal, a cidade posteriormente recebeu o nome de Felipéia.

As lutas com os índios prosseguiram ainda durante anos, ora contra os Tapuias, que viviam no interior, ora contra os Potiguares, que habitavam o norte. A 24 de dezembro de 1634 foi a cidade ocupada pelos holandeses, depois de ataques aos fortins da barra, defendidos pelas tropas aquarteladas em Cabedelo. Contava Felipéia 1.500 habitantes e em suas imediações funcionavam 18 engenhos de açúcar. Com a aproximação das forças batavas, o povo abandonou a cidade, depois de incendiar os prédios mais importantes. Comandados pelo Coronel Segismund Von Schkoppe, 2.500 homens invadiram a cidade, que tomou o nome de Frederikstadt, ou Frederica.

Mas houve resistência. Um invasor lutando contra outro invasor. E em 1654, vencidos os invasores holandeses, tomou posse do cargo de governador João Fernandes Vieira. A capital chamou-se Paraíba do Norte até 4 de setembro de 1930, quando teve seu nome mudado para João Pessoa, em homenagem ao Presidente do Estado, assassinado no Recife, em plena campanha política. Sua morte foi uma das causas imediatas da Revolução de 3 de outubro daquele ano.

Inobstante não haver consenso sobre a mudança do nome da nossa querida cidade, sequer sobre a necessidade deste debate, ouso opinar no sentido que o correto seria devolver à cidade o primeiro nome atribuído à região quando se encontrava sob o domínio dos índios, povo originário destas terras e verdadeiros e legítimos donos delas, reparando minimamente uma injustiça e atribuindo a cidade o nome de São Domingos.

 

 

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1 Comentário

  • Reply José 26 de novembro de 2023 at 11:16

    KKKKKKKK E eu pensando que São Domingos era um santo católico trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses e imposto aos indígenas. Duvido que os habitantes de Princesa Isabel desejem mudar o nome do município, que os moradores de Petrópolis almejem algo semelhante, que os ilhéus de Florianópolis defendam outra denominação para a capital catarinense. Não entendo porque os que se dizem progressistas na Paraíba tentam reabilitar os interesses dos antigos coronéis, contrariados justamente pelo presidente João Pessoa. Por falar no ex-presidente do Estado, recentemente a jornalista Tatty Valéria, em A União, escreveu que João Pessoa foi eleito presidente da república e foi assassinado antes de assumir. Até hoje procuro pelo “erramos” do jornal oficial e nada.

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