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A HISTÓRIA EM TRÊS POR QUATRO

18 de fevereiro de 2018

RAMALHO LEITE 

Ainda alcancei aqueles fotógrafos que se concentravam na Praça Pedro Américo, em frente ao prédio dos Correios. Quem queria fotos, apenas, para documentos, devia esclarecer ao retratista que, invariavelmente, perguntava:

– Quer com Correio ou sem Correio?

A meia dúzia de retratos três por quatro era fornecida sem  o prédio dos Correios ao fundo,às vezes  acrescidos de paletó e gravata,quando se exigia essa indumentária.O paletó cabia em qualquer corpo  retratado. A minha cédula de identidade, com fotografia originária da Praça, era um espaço em branco, desbotado pelo tempo. Fora assinada por Gato, o então chefe da Instituto de Polícia  Técnica, quando eu tinha dezoito anos.Renovei-a aos setenta.

Na cidade pontificavam em seus domicílios fixos, outros artistas da fotografia. O velho Gilberto Sturcker tinha endereço na esquina esquerda do Paraíba Hotel. Na esquina direita, pontificava Neiva. Ariel Farias e depois seu filho Arion reinavam na Miguel Couto e  foram ficando mesmo depois do Viaduto Terceirão.Castanha retratava na Praça João Pessoa e Vavá, tinha o seu Petit Foto, na rua da República. Sem esquecer Aguinaldo Estrela, que era encontrado nas proximidades do Cine Rex.

No mundo oficial, Rafael Mororó e Waldomiro Ferreira foram os mais longevos fotógrafos oficiais, um estadual e o outro municipal. Quando eu conheci Mororó ele era mais chefe dos fotógrafos de Palácio do que propriamente um deles. Ainda editou uma obra sobre a cultura da agave, cujo título, falava em Ouro Verde, mandada publicar por Pedro Gondim. Waldomiro, o Cabeçao, surpreendeu João Agripino estirado em um banco e dormindo a sono solto no salão do deserto Aeroporto Castro Pinto enquanto aguardava uma aeronave. Foi foto de primeira página mas quase perde o emprego. Cabeçao chegou a vereador na capital e deixou Tavinho Santos como herdeiro,bom político mas  sem qualquer aptidão para a fotografia.

Acervo maior deixou Walfredo Rodrigues. Antes que se perdesse, Dorgival Terceiro Neto me autorizou sua aquisição e instalamos o Museu Fotográfico Walfredo Rodrigues, em um casarão da Duque de Caxias, restaurado por Balduino Lelis. O prefeito Hermano Almeida levou o museu para a Casa da Pólvora e hoje ninguém sabe dizer por onde anda a historia da cidade contada pela lente de WR.

Essas reminiscências vêm a propósito do trabalho de Josélio Carneiro- “Governo da Paraiba, Cenas dos Últimos 80 Anos”- onde ele leva o leitor a percorrer a história da Paraíba através da fotografia e dos arquivos dos repórteres vinculados à área de comunicação do Estado. A pesquisa envolveu os autores dos flagrantes, e as legendas indicam os personagens que naquele momento, davam as ordens na Paraíba e no Brasil.

Ao identificar em uma dessas fotos o locutor Geraldo Cavalcanti, lembrei-me de sugerir também o resgate da história, via oral, pela voz dos locutores da emissora oficial do estado.Lembrei que Geraldo, afônico, foi substituído por um novato a quem recomendou a melhor forma de cumprir a tarefa de cobrir solenidade palaciana.Ao saltar do veiculo a primeira dama, o locutor sapecou: “Acaba de chegar S.Excia, o governador, acompanhado de sua primeira mulher”…

Quem não se recorda do genial Paschoal Carrilho?  Transmitindo um banquete, diretamente do Palácio, incomodado por achar desnecessária aquela missão, seu vozeirão se fez ouvir na então PRY-4: ‘’Já estão comendo a mulher do Governador e o Bispo.As demais autoridades estão na fila”…

Da mesma forma que os fotógrafos e sua produção mostram na pesquisa de Josélio Carneiro, um longo período da nossa historia, a Tabajara tem outro tanto para contar, desde os programas de auditório às narrativas de solenidades oficiais, hoje menos freqüentes que no passado. (Josélio está lançando novo documentário, desta feita, sobre o jornal A União, que aniversaria este mês de fevereiro)

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