opinião

As trapaças da sorte

28 de maio de 2023

Marcos Pires

Paulo Renha, Ivan Santiago e eu estávamos a bordo de um avião vindo do Rio de Janeiro para cá. Paulo acabara de lançar o triciclo Renha, sonho de todos os jovens e somente dois exemplares haviam saído da fábrica; o dele, amarelo, e o meu, preto. Renha emprestara seu triciclo para Roberto Carlos fazer as fotos de capa do seu disco recém-lançado e a revista Quatro rodas que acabara de chegar nas bancas trazia uma matéria sensacional sobre o triciclo. Ou seja, estávamos “na moda” em todo o país; éramos os playboys do Rio de Janeiro.  Com a revista em mãos comentávamos sobre a matéria quando um vizinho de poltrona pediu emprestada a Quatro rodas porque também tinha um triciclo. Paulo gelou; será que havia um concorrente no mercado? Gentilmente perguntou ao rapaz onde ele havia comprado seu triciclo e ele orgulhosamente disse que Paulo Renha, de quem era amigo de infância, havia lhe vendido. Ele disse isso AO PRÓPRIO PAULO RENHA. Foi um resto de viagem bastante divertido.

Outra história incrível aconteceu com meu amigo Valderi, que desejava comemorar o aniversario de casamento e pediu a indicação do melhor restaurante de São Paulo ao nosso querido amigo Clodoaldo Soares de Oliveira, que lhe recomendou um excelente restaurante, sublinhando que chegando lá procurasse o maitre Jajá e que dissesse ser amigo de Lafayette Torres (outro amigo querido). Valderi ainda ponderou que não conhecia Lafayette, mas foi assim mesmo.

Ao atende-lo e saber que era amigo de Lafayette, o maitre abriu espaço entre as mesas de Olavo Setúbal (Banco Itaú) e Antônio Ermírio de Morais, colocando Valderi no centro das atenções, ancorado no prestigio do suposto amigo. Em seguida perguntou ao casal o que desejavam e Valderi foi firme: “- Quero prestigiar meu amigo Lafayette. Portanto traga para nós o que de melhor ele pede aqui”. E assim foi feito. Era o sonho de Valderi que se realizava.

Quando estavam tomando o café pós sobremesa (uma deliciosa miscelânia de frutas exóticas cobertas com sorbet) foram interrompidos pelo maitre que muito sorridente, apontando para a porta de entrada, anunciou; “- Doutor, veja só quem chegou!”. Valderi olhou na direção da porta, porém não reconheceu ninguém. “- Quem é?”. O maitre aumentou a risada e insistiu: “- Ora, quem? O seu amigo”. Só então Valderi entendeu que Jajá referia-se a Lafayette Torres, a quem ele jamais fora apresentado, sequer conhecia de fotografia.

Claro que tratando-se de gente bacana a noite terminou com Valderi, graças à sua reconhecida competência na difícil arte de contar histórias, tornando-se finalmente amigo de infância (dos mais recentes, é bem verdade) de seu querido “Lafa”, como passou a tratar Lafayette a partir de então.

 

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1 Comentário

  • Reply Paulo Fernando Menezes Almeida 28 de maio de 2023 at 07:28

    A cara de pau do mentiroso é incrível! Chico, um primo meu, que mentia com maestria,, nunca colocou um ser vivo como testemunha das suas mentiras. Certa vez lhe perguntei porquê agia assim, e ele me respondeu: Deixa de ser chato, tás querendo quebrar o encanto das minhas narrativas?

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