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Da vez que Lúcia Braga, impugnada pelo PMDB, botou Chico Franca no lugar dela e o elegeu prefeito

31 de agosto de 2018

Lúcia Braga não conseguiu realizar o sonho de ser prefeita de João Pessoa, em 1992, por causa do PMDB. Era favorita, tinha feito um trabalho memorável na Funsat durante o Governo do marido, e nas áreas mais pobres da Capital, onde atuou intensamente, era chamada de “Mamãe Lúcia”. Por isso o favoritismo, que o PMDB desmanchou nos tribunais.

Dizia-se que era inelegível por conta de problemas administrativos na Funsat. Ela insistia que tudo era balela. Mas o PMDB mexia os pauzinhos procurando um jeito de barrar a arrancada da mulher de Wilson Braga.

Ronaldo era o governador e era do PMDB. Ronaldo, Zé Maranhão, Humberto Lucena, Cássio Cunha Lima e Antonio Mariz formavam a linha de frente do partido. 

O candidato escolhido pelo PMDB para disputar a Prefeitura foi o então vereador Delosmar Mendonça Júnior, político jovem, inteligente e de boa oratória. 

A campanha de Delosmar era suntuosa, cheia de enormes e potentes carros de som, de palanques a perder de vista e de mocinhas bem vestidas emprestando um colorido todo especial à festa. E, quando a música da campanha tocava “…É Delosmar!”, tinha mulher que desmaiava de emoção.

O PT também participava do pleito com o estreante Chico Lopes, que fazia uma campanha pobre, sem recursos, quase sem  visibilidade. 

O PMDB só tinha olhos para Lúcia Braga e para a tese da sua inelegibilidade. Que terminou acontecendo. A justiça impugnou-lhe a candidatura e ela, só pra mostrar que tinha votos, botou Chico Franca no seu lugar e anunciou: “Quem votar em Chico, vota em mim”. A frase pegou. E pegou tanto que Chico cresceu. Delosmar, ao contrário, foi diminuindo, diminuindo e, para surpresa geral da nação paraibana, terminou ultrapassado por Chico Lopes, que disputou o segundo turno com o filho de Seu Damásio.

Chico Franca, que nunca tinha disputado uma eleição, terminou eleito prefeito de João Pessoa, derrotando Chico Lopes, do PT.

Quanto a Delosmar, bem, ele ficou tão traumatizado com a experiência que abandonou a política e foi advogar nos tribunais daqui e de alhures.

Como eu disse, Lucia Braga foi impugnada na sua pretensão de candidata a prefeita de João Pessoa, pelo PMDB velho de guerra. Era a favorita e se lhe fosse permitido disputar, com certeza teria vencido no primeiro turno.

Por isso, assim que o Tribunal Eleitoral proclamou a sua impugnação, choveram candidatos dispostos a substituí-la.

Lembro de quatro: Derivaldo Mendonça, ex-vereador de vários mandatos, saído do PMDB para acompanhar o casal Braga; Luiz Augusto Crispim, intelectual, imortal da Academia, jornalista, cronista e secretário de comunicação do Governo do Estado; Francisco Evangelista de Freitas, ex-deputado estadual, ex-deputado federal e herdeiro de Eunápio Torres e Chico Franca, ex-secretário de administração, ex-secretário de obras, secretário de turismo, secretário da Administração da Prefeitura e filho do ex-prefeito Damásio Franca.

As apostas sobre quem seria o escolhido para a vaga de Lúcia eram feitas no Ponto de Cem Réis, nos corredores da Assembleia. Na Câmara Municipal da Capital, então, nem se fala, sem contar os pedidos aos mais poderosos para que interferissem junto ao casal Braga para escolher este ou aquele postulante.

Afinal de contas, Lúcia se tornara vítima da perseguição do PMDB, diziam. Se já era a favorita na corrida sucessória, agora tolhida nesse desejo pelas armas do tapetão, virava mártir. “Tiraram mamãe Lúcia”, gritavam as donas de casa do Grotão, do Mussumago, do Rangel, do Varjão, de Oitizeiro, do Cangote do Urubu, da Ilha do Bispo, de Mandacarú, do Padre Zé, do Timbó, da Tabaca da Burra e de Cruz das Armas, beneficiados pelas mãos da presidente da Funsat com casas de tijolo e telha, com feiras, com roupas, com remédios e com empréstimos a fundo perdido. Era uma verdadeira comoção que amedrontava o PMDB, autor da façanha traiçoeira.

Lá em Brasília, durante reunião na casa dos Braga, depois de muitos discursos e opiniões, dona Lúcia levantou-se e sentenciou, sem aceitar apartes:

– Só retornarei a João Pessoa se Chico Franca for o candidato.

E mais não disse, até porque a palavra dela era uma sentença. Ao ouvir a mulher, Wilson Braga determinou, imediatamente, a ida de Chico Franca a Brasília. Lá, o filho de Seu Damásio recebeu a boa nova. Só faltava retornar e dimensionar o novo quadro.

A Luiz Augusto Crispim foi dada a missão de redigir o discurso que seria lido por Chico assim que desembarcasse no Castro Pinto.

A peça literária perdeu-se no tempo, porém restou a frase inicial, que assim dizia:

– Eis-me aqui, combalido de emoção, para dizer ao povo de João Pessoa…

O avião já estava perto de Salvador, quando Wilson Braga virou-se para Chico Franca e perguntou se ele já havia decorado o discurso escrito por Crispim. Diante da negativa do futuro prefeito, Braga sugeriu:

– Então deixe isso para lá e fale no improviso mesmo.

Chico falou, foi eleito e governou a cidade por quatro anos.(Do meu novo livro, Nos Tempos de Jornal)

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