Irapuan Sobral
O paraibano, cuja cabeça vale cem mil reais, é o chefe do Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro.
A sua fama foi acentuada pelo requinte de violência. Dizem ser dele a responsabilidade intelectual pelas mortes de uns médicos confundidos pelos executores, enquanto bebiam em um bar na Cidade Maravilhosa.
Ele é o Doca. Poderia até ser o personagem da música Memórias do Café Nice: aquele que cria a balbúrdia e acaba o baile, mas termina rebolando sem bambolê quando resolve pensar que o “cara fraco” não reagiria. Isso tudo sob a ordem de um piston.
Pois é! Hoje, no bar, alguém contou uma antiga história que vale o custo neuronal da lembrança.
Depois de treinar por toda a adolescência nos chiqueiros do bairro de Jaguaribe, em João Pessoa, Doca foi embora pro Rio de Janeiro acompanhar e apoiar um primo que já mandava no Morro do Alemão. Não demorou muito e, com a morte “natural” do primo, assumiu o comando da facção.
As sucessões nos comandos de facções criminosas são sempre extraordinárias.
Quando já famoso nacionalmente, ele voltou ao velho Jaguaribe — de seus pequenos pecados —, para onde retornou com o nome local de Zé da Galinha, advindo do batismo: José Raimundo da Silva, agora Doca.
Para fazer justiça ao nome, tentou repetir as antigas empreitadas, acompanhado de velhos camaradas de infância. Surpreendido pela costumeira vítima, acabou preso com a mão na penosa.
Chegando à Central de Polícia, para simples registro do B.O., foi reconhecido pela nova alcunha, adquirida na hierarquia dos morros cariocas, e permaneceu sob custódia e com a prisão preventiva decretada.
Quando o doutor advogado chegou do Rio para resolver a “pendenga”, lamentou a brincadeira cometida por um “homem sério” e “comandante supremo”, questionando-o — fora da liturgia —, por que chegara àquela situação, quando deveria estar sob cuidados.
O cliente então respondeu, em paraibanês de Jaguaribe:
— Merda, visse!?




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