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Domingueiras do Tião

15 de maio de 2022

DUELO DE POETAS

A cidade vivia e respirava poesia naquela semana de poemas e repentes, com os poetas da terra apresentando o que tinham de melhor. O troféu de vencedor do concurso não anunciava dinheiro,mas a fama bastava.

Nos bares, esquinas e salões de sinuca os tradicionais fuxicos foram deixados de lado, trocados pelas notícias dos versos de Lulu Cristóvão, de Miguezim Lucena, de Rena do São José, de Sales da Timbaúba e de outros notáveis das zonas rural e urbana.

Fazia já uma semana que os duelos aconteciam no palco do Instituto Frei Anastácio. E um júri formado pelas mais destacadas figuras da política, da intelectualidade, do clero e da segurança pública dava tudo de si para escolher, sem o risco de incorrer em injustiças, os melhores de cada etapa.

Ano de inverno, de muito milho e feijão verde, as feiras entupidas de frutas doces descidas da Serra do Brejo, os garajaus de galinhas de capoeira enfeitando os tabuleiros, no açougue as melhores carnes separadas para os fregueses que Veri, Seu Ananias,Floro Jiromi e Vavá de Fofa escolhiam a dedo, ali pertinho Augusto Preto e Pi de Fila duelando para ver quem mais vendia carne de porco, Maria Costa fazendo ponto no beco de Antonio Teodosio com seu cachorro quente de galinha ossuda, João Costa oferecendo o capilé em garrafas de vidro, sem gelo; o fumo Arapiraca de Seu Antonio sendo experimentado pelos cabras do Gavião, que davam uma tragada e uma cuspida para mostrar que o produto era bom, enquanto os bares de Joca, de Mirabô, de Luizinho, de Arlindo, de Maria do Ó e de Zé Brejeiro ofereciam desde a cachaça Serra Grande ao Pau Dentro feito com raízes medicinais e aguardente de cana oriunda de Vitória de Santo Antão.

Aproximava-se a hora da finalíssima.

Os dois melhores entre os melhores, Miguezim Lucena e Lulu Cristóvão, passavam em revista seus versos derradeiros, elaborados com o cuidado de quem está prestes a receber o tão cobiçado troféu, quando  Miguel, cheio de malícia, convenceu Lulu a tomar umas lapadas de Vinho de Jurubeba Indiano “para se inspirar”.

Lulu aceitou. E os dois derrubaram duas garrafas do tão apreciado néctar.

Para Miguezim, aquilo era mesmo que beber kisuco, mas Lulu, desacostumado, sentiu o efeito.

Tanto sentiu que na hora de declamar seus versos para uma platéia em êxtase, trocou as bolas e recitou:

“Princesa, minha Princesa, terra de Aloysio Bento e de Gonzaga Pereira!”

Foi declassificado, embora não tenha notícia de algum desgosto sentido, em razão da troca, pelos cunhados Aloysio Pereira e Gonzaga Bento.

 

A FESTA DA CISTERNA

Segundo contou Silvano, da Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras, houve uma grande festa na zona rural do município neste final de semana, por conta da inauguração de uma cisterna.

A dita cuja, conforme Silvano, foi inaugurada pelo governador do Estado, que deslocou-se até a comunidade acompanhado de seu secretariado para abrir a torneira e ver a água jorrar.

O ineditismo se deu por conta do objeto da inauguração. É que, antes, governador tinha o hábito de inaugurar adutoras, barragens, estradas e similares, nunca cisterna daquelas redondas que são edificadas na porta da casa do agricultor para aparar a água da chuva.

O único incidente da festa teria sido a chuva, que caiu na véspera e varreu a mão de cal aplicada nas paredes externas da obra, deixando a redondeza toda melada

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