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Domingueiras do Tião

9 de outubro de 2022

O MUDO

Havia um mudo no final da rua do Cancão. Morava só, numa casinha apertada, imprensada entre um muro e a oficina de ferreiro de Expedito.

Não tinha família, nem mesmo o nome de batismo era conhecido. Chamavam-no de O Mudo.

Comia do que lhe davam, vivia da caridade alheia.

E um dia desapareceu, sendo encontrado morto, já inchado e cheio de bolhas, na estrada da Timbaúba.

Eu, menino, com os demais meninos da rua, fomos olhar o recolhimento do corpo.

Parecia uma festa.

Jogaram ele numa rede e levaram direto para o cemitério, sem direito a encomendação do corpo.

Corpo de pobre não se encomendava. Quando muito alguém tirava uma reza ligeira e logo corria com o corpo para os finalmente.

Mas quando o morto era rico, o padre inchava a veia do pescoço e fazia um discurso.

Numa dessas solenidades, choraram a Filha de Maria, o sacristão, os coroinhas também choraram e o público em geral nem se fala. O padre lembrou os parentes do jovem morto, disse que ele ia se encontrar com a mãe no céu e até previu uma auréola para o dito cujo em futuro não muito distante.

Para o mudo sobrou o caixão da caridade, que era usado para transportar o corpo da capela do cemitério até a cova. Lá o corpo era despejado no buraco e coberto pela terra. Se tivesse como, botavam uma cruz em cima do amontoado de barro, mas nela nada se escrevia, nem nome, nem sobrenome, nem data de nascimento, nem de morrimento.

Dizem que na casa abandonada do mudo foi desenterrada, tempos depois, uma botija cheia de moedas antigas, de prata e de ouro.

Mas se isso foi verdade ou não, ninguém conseguiu provar. Viu-se, isso sem explicações, vizinhos dele, do mudo, mudarem de vida da noite para o dia, uns ostentando roupas novas e outros indo mais além, botando bodegas, mercadinhos e comprando jeeps.

Mas a quem perguntava, eles diziam que tinham acertado no bicho.

 

MARTA E RAMALHO

Eles dois formam um casal bonito e simpático. Deles me aproximei meio por acaso, meio devagar como quem não quer e querendo. Mas logo aprendi a gostar. Aliás, aprendi não, aprendemos, porque Dona Cacilda também está na jogada. Falo de Ramalho Leite e Marta Ramalho, casal de 50 anos de união, ambos os dois aniversariando esta semana e sendo alvos das mais significativas homenagens.

 

COM A IRMÃ

A gente mora na mesma cidade, mas passa tempos sem se ver. É a consequência do corre-corre, da agitação da cidade grande, do cada um cuide de si. Mas ontem nos vimos, nem todos, devo ressaltar, porque faltaram a de Princesa e o de Brasília, além da que mora aqui, mas não teve como ir. Mas eu, Bibiu e Neci nos encontramos na vivenda dela, no Geisel. E comemoramos o encontro comendo uma rabada de boi com cuscuz. E logo no Dia do Nordestino.

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