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Domingueiras do Tião

26 de março de 2023

OS VELHOS CABARÉS DA DOCE MACIEL PINHEIRO

Os bares do centro histórico de João Pessoa morreram depois dos cabarés. E quem viveu os cabarés da Maciel Pinheiro achava que eles seriam eternos.

Num domingo como o de hoje, por exemplo, resolvi passear pelos sobrados em desgraça, pelas ruas sem gente, quando avistei aquele senhor de cabelos brancos, ombros meio arreados, olhar perdido nas cumieiras dos casarões. Olhava os edificios velhos como se quisesse desenterrar os fantasmas que o progresso engoliu, as quengas bem vestidas que satisfaziam as vontades dos abastados e dos menos afortunados, porque quenga de antigamente não se julgava nem discriminava os lisos.

Nem precisei puxar conversa. Ele próprio começou a falar como se me conhecesse dos velhos tempos.

-Aquela era a casa de Hosana, a mais famosa e mais elegante de todas as raparigas. Ali só entrava quem tivesse bom guardado. Só tinha vez de desembargador pra cima. Usineiro tinha dinheiro, mas precisava tomar banho para se achegar a uma das meninas. E que meninas! Vestiam longos, renovavam os guarda-roupas todos os sábados e sabiam dançar as valsas que Dedé, no saxofone, tocava durante as tertúlias.

Foi nessa casa que o jovem S R, depois de receber gorda mesada dos pais, chegou acompanhado do primo E D e, após entrarem, foram abordados por uma orgulhosa Hosana:

-Vocês querem o que?

-A gente quer se confessar. O padre já chegou? – respondeu um E abusado e com cara de rico.

O mais assíduo freqüentador de Hosana era o desembargador Júlio Rique. Ficou famosa a festa de seu aniversário, realizada no cabaré, reunindo a fina flor masculina da sociedade pessoense. Todos de ternos impecavelmente engomados, tomando uísque depositado nas toalhas brancas de algodão, uma cadeira colocada no centro do salão para receber o aniversariante. Eis, finalmente, que adentra o desembargador, trajando cueca samba canção e paletó de diagonal branco. Sobe na cadeira e, emocionado, discursa:

-Raparigal da minha terra!

Depois de Hosana, visitava-se Lourdinha da Royal, Laura, o Night Cassino e Antonina, que não perdiam para Hosana em elegäncia, animação e belas mulheres . Foi em Antonina que Oscar, um sertanejo de Santana dos Garrotes que vivia por aqui estudando, se encontrava em companhia de uma bela moça, quando na mesa ao lado sentou-se um usineiro. O tal, que trazia consigo um capanga, confiou no poder do dinheiro e começou a chamar a companheira de Oscar para sua mesa. Diante da insistência, Oscar perguntou se a moça queria ir. Como ela disse que não, foi até lá e pediu respeito. O jovem usineiro levantou-se querendo briga e Oscar o fez sentar-se com três tiros de bereta no peito, para nunca mais se levantar.

No Night Cassino a principal atração, tirando as meninas, era o saudoso coronel Belmont, que tocava sax para animar a festa.

O cabaré da Maciel Pinheiro era tão forte que se rebelou contra o então governador Zé Américo, por ter ele determinado, em 1954, o fechamento da zona depois da meia noite. E não foram só as putas que comandaram a revolta. Figurões da sociedade portaram bandeiras e estandartes, até que o sisudo Zé revogou o seu ato.

 

A CURVA 

Naquela época, o principal transporte da zona para os bairros era o bonde. E foi nesse bonde que o gaiato Zé de Ivo, que se dirigia a Cruz das Armas, ouviu o motoneiro gritar “Olha a curva!” e viu todo mundo se levantar. Decidiu que, no dia seguinte, quando o grito saísse e todos se levantassem, permaneceria sentado.

Dito e feito. Na curva que existia perto do quartel do 15, o motoneiro gritou, o povo se levantou e ele, o gaiato Zé de Ivo, permaneceu sentado. Foi mais ou menos assim:

-Olha a curva!

-Ai meus ovos! – gritou Zé, sentado no seu canto, ouvindo de lá o motoneiro dar o aviso:

-Agora se agüente até terminar a curva.

Zé soube depois, enquanto botava os ovos inchados numa bacia de gelo, que o motoneiro gritava pela curva para que o povo se levantasse e não tivesse os pissuidos presos pelas tábuas dos bancos, que se comprimiam e somente se abriam quando o bonde deixava para trás a inclinação.

 

CASARÃO DE MARCOLINO

A prima Maria Estela Pereira Veras é quem dá a notícia: A Prefeitura de São José de Princesa adquiriu, por compra, o casarão do Caboclo Marcolino, nos Irerês, para nele instalar o Museu de 30, com coisas da revolução chefiada por Zé Pereira e do próprio cangaço, já que Lampião costumava passar suas férias por aquelas bandas.

Diz mais: A Prefeitura também vai restaurar o casarão do Major , palco do histórico combate no qual Marcolino, chefiando um batalhão de homens de Zé Pereira, libertou as mulheres de Irerê aprisionadas pela Polícia e botou a tropa do Governo para correr.

 

MODESS DE VOLTA

Quem dá a notícia é Miguezim de Princesa, nosso pesquisador para assuntos aleatórios:

“O velho Modess está de volta. Depois de a marca ser abandonada pela Johnson e Johnson durante 15 anos, a fabricante Ever Green obteve o direito de usá-la no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, de acordo com site especializado no assunto. Resta saber se o tamanho será em padrões atuais ou daqueles de um palmo. Os absorventes serão fabricados no Ceará e em São Paulo.”

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