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Domingueiras do Tião

24 de setembro de 2023

Quando ingressei no jornalismo a coisa funcionava com ares de modernidade, mas ainda existia a máquina queixo duro, a famosa oliveti, e a grande novidade era o telex, que trazia textos pelos ares e os imprimia num matraquear de metralhadora que sufocava os demais sons da redação.

A imprensa era romântica, os jornalistas se esforçavam para fazer a melhor matéria, não havia fome por dinheiro, quando muito um inocente toco era enfiado no bolso de algum profissional, assim mesmo sem ele pedir e sem se comprometer com o agrado.

Não falo dos patrões, esses agiam na cúpula e não nos permitiam o acesso às suas confabulações. Falo dos que passavam o dia cansando as canelas a cata de notícias e, quando o sol se punha, afogavam as mágoas na Fava do Efraim, na sopa de Evilásio ou nas esquinas mal iluminadas da Maciel Pinheiro.

Mas os tempos novos chegaram decretando o fim daquele jornalismo despretencioso. Fecharam as portas dos jornais, tudo virou internet, e, com ela, aconteceu o fenômeno: todo mundo virou jornalista.

O sujeito vai ali no shopping dos camelôs, compra um gravador feito no Paraguai e se posta na Câmara Municipal ou na Assembleia Legislativa para colher entrevistas com os deputados e vereadores. Enfia o gravador debaixo do nariz da “otoridade”, pergunta um monte de idiotices e, no final, dá a facada: “Me dê a ajuda dos meninos”.

Acanalhou. Virou comércio. Nem pudor existe mais. Dia desses um assessor de imprensa do prefeito de pequena cidade pediu espaço num portalzinho qualquer e o “jornalista” respondeu: “Eu levo quanto?”

Sem contar a prostituição das verbas. A coisa anda tão degringolada que recentemente um “colega” me propôs: “Eu anuncio a galinha do teu menino nas minhas redes sociais, mas ele vai ter que me dar duas já prontas para o consumo todos os domingos”.

 

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