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Domingueiras do Tião

11 de fevereiro de 2024

MEU TEMPO 1

Foto Google

Dizem que o homem assume a velhice quando decide escrever sua autobiografia. Estou assumindo a minha. Hoje e nos domingos seguintes vou contar minha vida, até onde puder:

Vim ao mundo numa boca de noite em 1951. Era dezembro, perto do Natal. Fui o primeiro  da segunda família do meu pai. Antes de mim minha mãe teve quatro, todos mortos dias após o nascimento. E eu quase não me crio. Quando as parteiras Mãe Preta e Mãe Filó me puxaram do bucho de mamãe pensaram que eu estava morto.

– Compadre, perdemos o trabalho. Está morto. Vamos cuidar de comadre Emília”, avisou Mãe Filó.

E foram cuidar de mamãe, enquanto eu fiquei jogado num canto da cama esperando a hora do enterro.

Papai me fitou demoradamente e achou que as duas parteiras estavam enganadas. “Comadres, o menino está vivo”, advertiu ele. Elas de imediato me pegaram nos braços, chuparam meu nariz, deram palmadas, me sacudiram. Aí Mãe Preta apelou, como medida extrema e derradeira, para uma bacia de água quente. Foi me jogar na água e eu abrir os olhos.

O meu nome foi resultado de uma promessa feita por alguém de casa. Se eu não morresse, agradeceriam a São Sebastião e poriam o nome do santo no menino que o santo trouxe para a vida. Promessa feita e cumprida, nasceu Sebastião, ou Tião, como abreviaram com o passar dos tempos. Ainda fui chamado de Tuta, Meia Cuia e Bastião do Véi Migué.

Moramos a vida inteira no Bairro do Cancão, o Cancão dos pobres e marginalizados. Éramos realmente pobres. O bairro era tão carente que nas casas não existiam banheiros. Os moradores se aliviavam ou nos penicos ou nas grotas da Pedra do Urubu. E o banho era de cuia.

Ao contrário dos meninos da chamada “alta sociedade”, vivíamos livres como os passarinhos, tomávamos banhos de açude, nos dias de chuvas fortes nos jogávamos nas correntezas e fazíamos açudes de sonhos. Caçávamos as lagartixas e sibitos com baladeiras, nossos brinquedos não eram comprados nas lojas da cidade. Improvisávamos. Os bois eram ossos dos próprios bois, os carros eram adaptados de  latas de sardinha e as rodas, de sandálias japonesas.

O bairro não dispunha de calçamento. Eram duas fileiras de casas, separadas por um terreno íngreme, largo e comprido. No meio do terreno os homens jogavam partidas de futebol. Foi desse campo que nasceu o Esporte Clube Operário, o famoso Cancão, fundado pelo craque Zé de Ana.

 

O CUSCUZ DO ZÉ AMÉRICO

Tadeu Mendes Florêncio e Marcos Burrego  não abriram mão do cuscuz com bode e arroz de leite na Feira do Zé Américo no sábado de Zé Pereira.

Prepararam as tripas para as festas que estavam por vir.

 

SOLON E MEU LIVRO

O jurista, advogado, procurador, professor, escritor e amigo Solon Benevides fez o seguinte comentário sobre o meu novo livro, “No Tempo do Cangaço”:

“Tião amigo! Seu livro é excelente! Vou utilizar ele quando for na atualização da minha tese pós doutorado. Muito bom! Vai ser uma referência doutrinária!”

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