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Domingueiras do Tião

14 de abril de 2024

ASSUSTADOS

Sou do tempo dos assustados, das festinhas dançantes em casas de amigos ou nos bares do meu sertão.

Inevitavelmente, de vez em quando fico a olhar o horizonte distante acreditando na volta dos meus fantasmas juvenis, cheios de amores e tentares, de saudades e desejos, de sonhos e noites indormidas, todos eles perdidos na longa caminhada que me transportou da meninice namoradeira para a fase intermediária da vida.

“Assustados” que antecediam os namoros, os flertes acanhados de iniciantes, os primeiros suspiros de paixão, os beijos primeiros em lábios encarnados como a flor orvalhada que desabrocha para o sol nascente.

Noites dançantes que serviam como única diversão para jovens que não pensavam na existência de outro mundo que não fosse aquele pequenino chão de uma Princesa escondida entre serras sertanejas, friorenta e por isso propícia a amores apertados; com seus casarões a guardar fantasmas de cangaceiros e heróis, de amantes mortos pela vingança dos traídos, de histórias misteriosas que se transformavam nos nossos primeiros medos.

Roberto Carlos dizia como era grande o seu amor pela amada, suspirava os detalhes das suas paixões entre lençóis com perfumes de rosas, enquanto os pares deslizavam pela sala de visita da casa anfitriã, rostinhos colados, peitos amassados em dorsos masculinos, coxas roçando coxas num exercício de desejo, cheiro de jasmim subindo pela nuca da menina/moça, vontade de transformar aquilo num eterno sonhar.

Dali nasciam os namoros, as paixões, as desilusões, os roeres regados a cachaça que afogava mágoas, as primeiras poesias falando de amor eterno, os poemas chorados nas mesas de Mirô Arruda, as serenatas inocentes que clamavam à amada o sim que foi negado no tremor de primeira declaração de amor.

 

NENO E LURDINHA

Falar de amor é falar de Neno e Lurdinha, um amor que nasceu lá atrás, bem distante e se mantém vivo até hoje. Um amor que serve de exemplo a esses moços amores de hoje que já começam com data marcada para o divórcio.

 

JOSINALDO MALAQUIAS

O grande Josinaldo Malaquias entrou para o time dos 70 e eu achei foi bom porque não estava gostando desse negócio de ser setenta e ver os amigos me olhando de longe, se dizendo mais moços. Aqui na foto, ele ao lado do setentão Frutuoso Chaves e do quase Antônio David.

 

E POR FALAR EM SAUDADE…

Aos poucos os amigos vão sumindo, sendo substituídos pelos anúncios de morte e missa de sétimo dia.

Quantos, ao longo do tempo, já se foram, viraram saudade!

Os de lá e os de cá, todos eles riscados do mapa da vida e lembrados pelas coisas que deixaram plantadas em nossas mentes e em nossos corações.

Quando volto ao meu lugar, visito logo o cemitério para me atualizar com os mortos.

Ali, nas lápides frias, reencontro o riso espalhafatoso de Astreço Massaroca, a fidalguia de João Barros, a prestimosidade de José, seu filho, o abraço afetuoso do meu velho Miguel Lucena, a saudação inimitável -“fala Bastião do Véi Migué!” –  do cunhado Sebasto, a gargalhada de Zé Lira, as confidências do velho Dosca, o abraço apertado de Bosco Coxim, a elegância de Gonzaga Bento, a impetuosidade de Aloysio Pereira, o abraço de Antônio Nominando,  a tolerância de Marçal Lima, as piadas de Luizinho de Calu, a saudade de Carlinhos, o bem querer de Tia Jove, e assim por diante.

Já em solo litorâneo, não há como esquecer as tertúlias com Paulo Mariano, as farras com Vavá Lima, o sorriso doce de Dona Emília, o barraco de Zezão que não existe mais, as valentias de Flavão, a humildade de Galego, as presepadas de Pedro Moreira, a rebeldia de Abmael, os conselhos de Agnaldo, a inteligência de Burity, a animação de Luiz Otávio, os doces ensinamentos do mestre Artur Moura, os discursos de Cabral, as piadas inocentes de Jardel, as manhãs regadas a cachaça ao lado do velho Goró e outros e mais outros que se mudaram daqui para fazer falta e machucar de saudade.

Dizem que é a roda da vida, uma roda que nunca estaciona, que nunca deixa de rodar.

Ontem foram eles, amanhã seremos todos.

Por isso é conveniente a cada um de nós checar a senha para ver se chegou a nossa vez ou se está perto a hora de chegar.

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