Foto mostra silhueta de corpo feminino, que poderia ser aplicada no golpe dos nudes (Foto: Tiago Ghizoni / Arquivo NSC)

Diário da Vanguarda

O Linha Direta exibido na noite de quinta-feira (25) pela TV Globo mostrou o desmantelamento de gangues especializadas em extorquir adultos que interagem com jovens na Internet e recebem fotos delas nuas.

Segundo o programa, logo após a remessa de nudes aparece na tela do receptor alguém que se diz mãe ou pai da moça ou menina – “menor de idade” – ameaçando o incauto de denúncia ou processo por pedofilia. E pede dinheiro alto para não entregar o ‘pedófilo’ às autoridades nem enviar fotos e diálogos à família do ‘tarado’.

Caso a pessoa rejeite a proposta, a chantagem entra na fase 2. Na caixa de entrada do relutante chegam vídeos onde bandidos encenam responsáveis pela ‘criança’ prestando queixa a um ‘delegado de polícia’. Aí, exigem mais dinheiro, agora com um ‘policial’ no papel de negociador.

Print com ameaças sofridas por uma das vítimas – Crédito: gaz.com.br

Uma das vítimas não suportou a pressão e, supostamente por medo da vergonha que causaria a familiares caso tudo viesse a público, deu cabo à própria vida. Tal e qual fez um colega meu há três anos e pouco em João Pessoa. Não sei se consequência direta e imediata de problema semelhante ao exposto ontem, na televisão. Mas que esse jornalista sofreu golpe idêntico, isso posso garantir.

Dois ou três anos antes de sua morte, casualmente nos encontramos em um shopping da capital. Sem que lhe perguntasse coisa alguma, com feições e voz de muita angústia, contou-me que estava “vivendo um inferno”. Recebia então ameaças de ser denunciado à Polícia Federal por ter trocado nudes com uma moça que a ele disse ter 19 anos, mas, segundo os ‘pais’ dela, teria apenas 15.

Sugeri que procurasse a Polícia e fizesse um BO contra os chantagistas. “Isso é extorsão, amigo”, alertei. Pareceu não me dar ouvidos. Francamente desesperado, quis saber se eu conhecia algum agiota. Respondi que não.

Ficou em silêncio por instantes, levantou-se e foi embora. Deixou-me só na mesa do cafezinho onde ouvi toda aquela tristeza. Doravante, nunca mais trocamos palavras além de cumprimentos ligeiros tipo “oi”, “e aí?”, “tudo bem?”.

Estava fora da Paraíba quando soube da morte dele.


Por Rubens Nóbrega – Jornalista colaborador do Diário de Vanguarda