Histórias de eleição

Histórias de eleição (2)

6 de setembro de 2022

Foto meramente ilustrativa

Na década de 1960, Pedro Gondim governava a Paraíba e era popular. O que ele dizia, era lei. Tanto era que poucos se atreviam a enfrentá-lo. Por isso decidiu impor o nome de Robson Espínola para prefeito de João Pessoa. Impôs e todos os políticos que o seguiam o apoiaram de cabeça baixa, de rabos entre as pernas.

Quem não apoiou, calou-se com medo de contrariar o grande Pedro. Para que lutar, de que adiantava ser um Dom Quixote a enfrentar moinhos de vento?

Foi então que apareceu um doido chamado Domingos Mendonça Neto. Liso, sem tradição, na biografia magra com um título de ex-vereador e nada mais.

Mas ele partiu para cima. Pediu o apoio do seu partido, o PSD de então, o mesmo que depois virou MDB, acrescentou um P e ficou sendo PMDB para no final voltar a ser o MDB de agora, mas ninguém lhe deu cartaz. Consideravam-no um louco, um irresponsável, um sem futuro.

Mas Domingos insistiu. Foi a luta, registrou-a candidatura e começou a visitar os eleitores, pé no chão, de casa em casa, de feira em feira.

Entrava na casa do morador pobre da Tabaca da Burra e ia logo na cozinha levantar a tampa da panela e beliscar o que ali houvesse. Botava o menino catarrento no braço e metia-lhe o cheiro.

Enquanto isso, Robson Espínola deslanchava. Comícios lindos e gigantes, bandas tocando, faixas desfraldadas, foguetões invadindo os céus, uma lindeza. Estava eleito, não havia como não estar.

E Domingos na dele, pé no chão, pé na poeira, fazendo caminhadas, passeatas, sem nada para oferecer além do discurso de protesto e a promessa de melhores dias.

Veio o dia da eleição. A imprensa toda cantando a vitória de Robson. Ia ganhar de capote, não havia quem duvidasse.

E o eleitor calado, votando e voltando para casa. E Domingos cochichando no pé do ouvido do eleitor, indo de sessão em sessão com aquele jeito matreiro, com aquela cara sofrida, com aquele olhar pidão.

Abriram-se as urnas e saiu o resultado: Domingos Mendonça Netro, o Zé Ninguém, o doido, o louco, o sem futuro, sagrava-se vitorioso com uma votação consagradora. O povo mandou o seu recado aos que preferiram o poder, a máquina e os conchavos do poderoso Pedro Gondim. E Robson morreu sem entender aquela surra.

Você pode gostar também

Sem Comentários

Deixar uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.