Já fui evangélico

Já fui evangélico fervoroso, daqueles que participam de movimentos religiosos e não perdem um culto nos finais de semana. Leitor da Bíblia também fui, cheguei a escrever sobre as coisas divinas, passei um período estudando no seminário e quase virei pastor.

Entrei na igreja depois de um Encontro de Casais com Cristo. Senti paz, senti crescimento, senti muita coisa boa, mas um dia a casa caiu, descobri que muito daquilo que se pregava não era verdade, que o Cristo da Bíblia era trocado pelo “Cristo” travestido de pastor, que se louvava mais a quem estava por  aqui do que o verdadeiro alvo de toda e qualquer fé, no caso Jesus.

Mas ainda insisti, até quando me deparei com a inusitada pregação do pastor mandando votar em determinado grupo político e demonizando o adversário.

Então pensei: Quer dizer que só é filho de Deus quem vota no candidato do pastor?

Jesus não tinha partido, abraçava a todos. O pastor da minha igreja era seletivo, só queria saber de um lado, desprezava o outro. 

O  fim da picada aconteceu na pandemia. Vi muita gente esclarecida se recusando a tomar vacina contra a Covid porque o “mito” mandou dizer que vacina não servia para nada. O que o “mito” ditava virava lei, Jesus deixou de ser o rei da igreja, Bolsonaro era o novo Cristo. E não foi só isso. O maior absurdo foi ver o dono da igreja mandar as ovelhas fazerem uma roda em torno de enorme bandeira e todos orarem pela vitória do seboso responsável por quase um milhão de mortes.

Saí de perto. Recuso esse céu anunciado pelos fariseus do asfalto. Prefiro me esconder na minha santa ignorância e continuar cultuando o Cristo que não tinha direita, esquerda ou frente, abraçava a todos e a todos dava amor.