opinião

JESUS CRISTO E OS ESCOLHIDOS

31 de março de 2024

 

Por GILBERTO CARNEIRO

DESDE sempre fui obcecado pela história de JESUS CRISTO e seus discípulos. Li várias literaturas e assisti vários documentários, filmes e séries. “The Chosen” é a série do momento, uma produção independente que através de financiamento coletivo por meio de doações arrecadou quase 100 milhões de dólares com apoio de fãs cristãos para a sua produção e já possui mais de 100 milhões de expectadores ao redor do mundo.

Mas cuidado, a série usa as Escrituras Sagradas como sua principal motivação e fonte central de verdade, mas a grande maioria do conteúdo é da imaginação artística dos três roteiristas que escrevem a dramatização, usando muitas informações históricas e culturais da época que não são mencionadas nas escrituras.

O relato ocorre sobre o prisma da vida pessoal de cada um dos discípulos escolhidos, daí o nome, “The Chosen”,  que quer dizer: “Os Escolhidos”. É por demais interessante ver o amor e o sofrimento de Maria por seu filho; do resgate de Maria Madalena; dos detalhes da obtusidade e impulsividade de Simão Pedro, mas também da força da sua fé; a dedicação aos escritos por parte de João, o discípulo preferido do mestre; do bullying que sofreu Matheus no início do seu ministerio por sua vida pregressa de publicano; de Simão Zelotes que ao conhecer Jesus abandonou a luta armada contra os romanos e aliviou seu coração da raiva que sentia devido a perseguiclção aos judeus; das dificuldades de Thiago, o filho de Alceu, devido a sua limitação física, Jesus o fazendo perceber que a cura de alguém feita por ele tem um significado todo especial; do sofrimento de Filipe com a morte de João Batista; o grandalhão Tiagão reclamando com seu irmão André por ter de dormir ao lado de Tomé, o cético, hospedado em sua casa; o planejamento e as precauções de Natanael, conhecido como Bartolomeu; um Judas Tadeu de fé fervorosa, primo de Jesus, um dos discípulos que teve o privilégio de ver o mestre no caminho de Emaús no dia da Ressureição e o outro Judas, o Iscariotes, simpático até trair Jesus.

Na série Jesus é interpretado por Jonathan Roumie, que teve um momento de profunda introspecção e entrega espiritual por uma fase de dificuldades pela qual passou antes de ser convidado para integrar o drama no papel mais importante. Relata em uma entrevista que, ajoelhado diante de um crucifixo, abriu seu coração para Deus, compartilhando suas angústias e esperanças. Foi nesse ato de vulnerabilidade e fé que experimentou uma sensação avassaladora de paz, um presságio de que as coisas iriam melhorar.

É incrível que se possa ler sobre várias formas de manifestações de Jesus, porém ninguém contesta que tenha existido. No entanto, estamos muito acostumados a ouvir os relatos sob o ponto de vista do Jesus religioso, porém Jesus na realidade foi um grande revolucionário, como de certa forma a série revela, mesmo que não seja esta a intenção dos seus criadores.

Messiah ou Messias é uma outra série que traz uma narrativa sobre a possibilidade de um messias contemporâneo e como a sociedade e as pessoais reagiriam a isso. Chama a atenção o embate entre a fé/revelação e as religiões institucionalmente estabelecidas e suas doutrinas humanas, demasiado humanas. A série inclusive trás para a reflexão do público temas importantes atualmente, como o uso exagerado de redes sociais, interferências estrangeiras em outros países, e principalmente os refugiados de guerras civis que acontecem principalmente no oriente médio, e que muitas vezes são esquecidos pelo resto do mundo, que os veem apenas como terroristas e pessoas que não merecem uma segunda chance para recomeçar as suas vidas.

Do cinema para a literatura temos o livro “Zelota”, best-seller nº 1 do New York Times, de autoria de Reza Aslan, especialista em temas religiosos. O fato é que, conforme relato do escritor, há mais de dois mil anos, um pregador judeu atravessou a Galileia realizando milagres e reunindo seguidores para estabelecer o que chamou de “Reino de Deus”. Assim, lançou um movimento revolucionário tão ameaçador à ordem estabelecida da época que foi capturado, torturado e executado como um criminoso de Estado. Seu nome era Jesus de Nazaré.

Poucas décadas após sua morte, seus seguidores o chamariam de o “Filho de Deus”. Mas existe uma diferença entre o Jesus dos Evangelhos e o Jesus da História, entre Jesus Cristo e Jesus de Nazaré. De fato, o camponês judeu é o revolucionário que desafiou o governo do mais poderoso império que o mundo já conheceu. De acordo com os estudos históricos, é descrito como um rebelde carismático que desafiava as autoridades de Roma e a alta hierarquia religiosa judaica – um dos chamados zelotas, nacionalistas radicais que consideravam dever de todo judeu combater a ocupação romana.

Comparando o Jesus dos evangelhos com o das fontes históricas, Aslan descreve um homem cheio de convicção, paixão e contestação, e aborda as razões por que a igreja cristã preferiu promover a imagem de Jesus como um mestre espiritual pacífico em vez do revolucionário politicamente conscientizado que ele foi. Narra que o século I foi uma era de expectativa apocalíptica entre os judeus da palestina, a designação romana para a vasta extensão de terra que abrange os atuais estados de Israel, bem como grande parte da Jordânia, Síria e Líbano. Inúmeros profetas, pregadores e messias caminhavam pela Terra Santa proclamando mensagens do iminente julgamento de Deus. Todos eles, sem exceção, foram capturados e executados por Roma, isso porque as autoridades romanas, sentindo a febre apocalíptica no ar, tinham se tornado extremamente sensíveis a qualquer sinal de sedição.

Aos olhos do autor é difícil enquadrar Jesus em qualquer um dos movimentos políticos religiosos conhecidos do seu tempo. Mas reconhece que foi um homem cativante, atraente, carismático e louvável, seja sob o prisma da liderança espiritual ou revolucionária. Aponta o escritor que nas parábolas bíblicas predominam as referências ao Jesus, o Cristo, mas existem passagens que identificam também, o Jesus Histórico, por um dia pregar uma mensagem de exclusão racial. – Eu fui enviado apenas às ovelhas perdidas de Israel. Mateus, 15:24; no outro do benevolente universalismo. – Ide e fazei discípulos de todas as nações, Mateus, 28:19; as vezes clamando por paz incondicional. – Bem aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Mateus 5:9; outras promovendo a revolução, – Se tu não tens uma espada, vai vender teu manto e compra uma, Lucas 22:36. Aslan reconhece, porém  que dois mil anos depois, o Cristo da criação de Paulo totalmente subjugou o Jesus da História.

A memória do zelota revolucionário que atravessou a Galileia reunindo um exército de discípulos com o objetivo de estabelecer o Reino de Deus na terra, o pregador magnético que provocou a autoridade do sacerdócio do templo em Jerusalém, o nacionalista judeu radical que desafiou a ocupação romana, ficou quase completamente perdida para a história. A verdade é que os dados históricos sobre o Jesus de Nazaré são escassos, acentuou-se os conhecimentos sobre o Jesus, o Cristo, ate mesmo por conta dos evangelhos, as principais fontes de relato da sua vida, escritos 100 anos depois de sua morte.

No entanto, a leitura do livro nos desperta o interesse sobre o Jesus Histórico, tão atraente e carismático como Jesus, o Cristo. Ele é, em suma, alguém em que se pode confiar, afinal, tudo é uma questão de Fé. Mas é o Jesus, o Cristo, o escolhido pela humanidade e por Deus. Traído, aliás a  traição sempre acompanhou a história da humanidade e, em tempos atuais, em nossas Terras, nunca esteve tão em evidência. Jesus foi açoitado, torturado e embora pudesse ter se salvado daquela morte horrível, por espontânea vontade, escolheu morrer para nos salvar. A história, contudo não termina com sua morte, porque três dias depois Ele ressuscita, grandiosamente.

JESUS CRISTO foi um homem enigmático,  seja sob o ponto de vista histórico ou religioso.  Combateu as desigualdades sociais, o racismo, o preconceito, a concentração de riquezas e soube, com leveza e espiritualidade, revelar para os poderosos que a verdadeira riqueza da humanidade está na humildade, na simplicidade, na fraternidade e na compaixão.

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