
A avaliação de Kakay veio à tona por meio de uma carta enviada a amigos influentes em Brasília, na qual ele aponta que Lula estaria “isolado” e com dificuldades para conduzir a articulação com aliados. O conteúdo do documento acabou vazando para a imprensa e gerou grande repercussão nos bastidores do poder.
Segundo o advogado, a mensagem não foi endereçada diretamente ao presidente por uma questão de respeito. “Já advoguei para quatro presidentes da República, mas nunca frequentei o Palácio do Planalto”, afirmou.
Na carta, Kakay destaca que Lula já não faz política como antes e que figuras próximas ao Planalto enfrentam dificuldades para acessar o presidente. “O Lula do 3º mandato, por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir”, escreveu.
Ainda durante a entrevista, o advogado negou que estivesse se referindo diretamente à primeira-dama, Janja Lula, ao usar o termo “capturado” para descrever a situação do presidente.
Reeleição e futuro político
Kakay também expressou preocupação com a viabilidade eleitoral de Lula em 2026, alertando que, diante do atual cenário político, a reeleição do petista pode estar em risco.
“Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo”, afirmou o advogado.
A declaração de Kakay reforça um debate crescente entre governistas e aliados sobre os rumos da gestão Lula e a necessidade de ajustes na articulação política para evitar desgastes futuros. O fato de ministros do governo terem o procurado para elogiar suas observações sugere que há, dentro da própria base aliada, uma preocupação com o caminho que o governo vem tomando.
Com a repercussão da carta e o respaldo recebido nos bastidores, fica a questão: até que ponto a avaliação de Kakay reflete um sentimento mais amplo entre aliados do governo? E, principalmente, Lula irá reagir a essas críticas?
A cena política segue movimentada, e os próximos passos do Planalto serão fundamentais para definir os rumos do governo e sua força nas eleições de 2026.
Quem é Kakay
Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido pela alcunha de Kakay (Patos de Minas, 22 de setembro de 1957), é um advogado criminalista brasileiro, notório pela prestação de serviços advocatícios a políticos, empresários e celebridades.
Conta ter defendido dois presidentes da República (José Sarney e Itamar Franco), um vice (Marco Maciel), cinco presidentes de partido (simultaneamente), quarenta governadores (em períodos diversos), dezenas de parlamentares (pelo menos quinze senadores) e mais de 20 ministros (13, no governo de Fernando Henrique Cardoso; três, no de Luiz Inácio Lula da Silva; dois, no de Dilma Rousseff). Também já defendeu grandes empreiteiras (Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS), bancos (Sofisa, BMG, BMC, Pine), banqueiros (Daniel Dantas, Salvatore Cacciola, Joseph Safra) e empresários de renome internacional ou provincianos, “todos num momento ou outro enrolados com a Justiça”.
Entre 2015 e 2016, então advogado de onze políticos e empresários investigados pela Lava Jato, Kakay afirmou, na tentativa de defender a reputação de seus clientes, que o país vivia “sem a menor dúvida” um momento de “criminalização da riqueza”. Desafeto de Joaquim Barbosa, Kakay afirmou que o ex-ministro “não deixa nenhum legado. Não deixa um livro interessante; um acórdão profundo, uma tese. Nada. Eu, por exemplo, não vou nem criticar mais ele. A partir de agora, eu me nego até a falar dele”.
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