opinião

LADY BERNADETH

17 de março de 2024

 

Por GILBERTO CARNEIRO

QUANDO Bernadeth nasceu, em 1925, a expectativa de vida no Brasil era de apenas 34,5 anos. Um século depois, pesquisas estimam que os brasileiros vivem, em média, até os 77 anos. Dona Bernadeth Araújo superou as duas estatísticas e se prepara para se tornar uma Centenária no próximo ano, pois embora a expectativa de vida tenha aumentado são poucos os privilegiados que conseguem a proeza de chegar aos 100 anos com higidez física e mental.

Lady Bernadeth, como passei a chamá-la depois que tive o prazer de conhecê-la, é uma dessas privilegiadas. Alta, esbelta e elegante, esbanja simpatia. Olhar para ela sentada em sua cadeira de balanço é ver a fisionomia do filho “caçula”, como gosta de enaltecer quando faz referência aos sete filhos, Luciano Araújo, o caçulinha, Teozia Araújo, Nívea Araújo, Alba Araújo (in memoriam), Tarcísio Araújo, Jairo Araújo e Fabio Araújo, todos decorrentes da união matrimonial contraída com o seu companheiro de todas as estradas, seu esposo, in memoriam, Jose Augusto, em 26/05/1946, na Igreja de Nossa Senhora da Guia, em Campina Grande.

Durante a entrevista sua memória foi aguçada e ativada quando lhe perguntei sobre a época da sua juventude. Seus olhos brilharam: – “Era muito bom quando saía para me divertir com as minhas amigas”. Esta declaração explica porque entre os hábitos cultivados para tornar-se um centenário, comportamentos positivos como socialização, empatia, resiliência e inteligência emocional continuam sendo os comportamentos recomendados. Ao lhe indagar sobre seu segredo para a longevidade, não titubeia e responde, de pronto: -“O amor pela vida”. E reforça esta revelação resgatando lembranças da sua mocidade. – “Adorava dançar”. Exclama suspirando!

Lady Bernadeth relembra com seus olhinhos miúdos marejados os tempos na zona rural de Aroeiras, quando ajudava seu avô materno, Sr. João Georgino do Egito, todos os dias, fornecer alimentação para mais de 20 agricultores que passavam em frente à residência deles com enxada nas costas – “Eu e meu avô ficávamos na varanda perguntando aos humildes que passavam se já tinham almoçado”. Segundo estudos o espírito filantrópico contribui para a longevidade diminuindo os índices de mortalidade entre os que colocam os interesses dos outros antes dos seus. A teoria é que dar alguma coisa a alguém pode gerar um sentimento de propósito e de valor próprio, resultando no chamado “êxtase de quem ajuda” – uma sensação física resultante da liberação de endorfinas após um ato de bondade ou generosidade. E então fiquei a imaginar a sensação de bem estar provocada em D. Bernadeth e em seu avô após alimentarem tantas pessoas ao final do dia. O olhar sereno e meigo do seu rostinho angelical é a própria expressão desta bondade e me segurei para não verter lágrimas ao ouvir sua história.

Uma característica que muitos centenários parecem compartilhar é o desejo de continuar vivendo. –“Adoro contemplar o mar”, diz Lady Bernadeth, olhando para o seu filho caçulinha e o lembrando do compromisso de todos os sábados, à tardinha, de a levar para ver o oceano.  Quando a questionei até quantos anos pretende viver, respondeu com uma objetividade invejável. – “esta resposta não cabe a mim”. Religiosa, devota de Nossa Senhora de Perpétuo Socorro, exalta os quatro primos clérigos da família, três padres e uma freira.

Recentemente Lady Bernadeth completou 99 anos e em sua homenagem uma missa em ação de graças bastante prestigiada foi realizada, com as presenças da professora Maria Luiza e seu esposo Marcos; do médico Agripino Melo e sua esposa Manaira Abrantes, da médica Iris do Céu, da juíza de Direito Yvanosca, deste colunista acompanhado da sua mãe Anatália Carneiro, de 89 anos, e do seu irmão Eurico Gama, das presenças dos filhos, noras, genros, netos, bisnetos e do irmão de Lady Bernadeth, Fabiano do Egito, que reside em Campina Grande. A missa foi realizada na Capela Nossa Senhora Aparecida, em Quadramares, celebrada por Pe. Luiz Antonio, seu orientador espiritual há mais de 15 anos, um dos párocos mais benquistos e cultos em Teologia da nossa Igreja e que durante muitos anos esteve à frente do Santuário de Nossa Senhora da Penha e da Procissão da Penha, que é considerado o maior Evento Religioso do Nordeste.

Quando pergunto sobre as pessoas que lhe trazem boas lembranças, faz uma referência à citação bíblica que exorta honrar pai e mãe, e diz das saudades dos seus pais, Sr. João Francisco e Sra Francisca do Egito. A última pergunta que lhe fiz foi sobre qual conselho daria para os pretendentes a centenários, e responde, fazendo aqui pequenas adaptações das suas palavras: – “é preciso adaptação às mudanças, não se pode ficar preso ao passado, mas ao mesmo tempo não podemos esquecer dele, do passado”.

Ao final é ela que me questiona qual a razão da entrevista e respondo: – “Estamos no mês de março, o mês da MULHER, e a senhora representa a mulher guerreira, lutadora, longeva, filantrópica, carinhosa, perseverante, otimista, um exemplo de vida a ser seguido. A senhora, LADY BERNADETH, representa as mulheres deste século”.

Ela então sorri para mim e declama uma poesia da sua autoria que sempre recita todas as vezes que se encontra contemplando o mar: – “O que é o Horizonte? É o Círculo que Limita Nossa Vista. Ao Longe Parece Unir o Céu e o Mar”.

 

 

 

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