opinião

Lembrando Sitônio Pinto

10 de julho de 2022

Wodem Madruga
Aldo Lopes me dá a noticia triste do falecimento de Otávio Sitônio Pinto, ocorrido no dia 21 de junho, em João Pessoa, aos 77 anos. Jornalista, publicitário, escritor, dos grandes nomes da literatura paraibana (cronista, contista, poeta, ensaísta), imortal da Academia Paraibana de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Sertanejo nascido no município de Princesa Isabel, que ele chamava “Território Livre de Princesa”andando  no rastro da Revolução de 1930. Escreveu para vários jornais do Nordeste, entre eles a Tribuna do Norte.

Conheci Sitônio Pinto numa feira de caprinos e ovinos em Taperoá, me apresentado por Manoel Dantas Vilar Filho, o grande Manelito, coisa de trinta anos atrás, ele, Sitônio, também criador de bode. A partir daí a amizade nasceu e se consolidou através de muitos outros encontros.  Manelito é uma das principais fontes que Sitônio Pinto recorreu para escrever o seu grande livro “Dom Sertão, Dona Seca”, publicado em 2002, premiado pela Academia Paraibana de Letras.
Na Tribuna do Norte de 31 de julho de 2016  abri a coluna escrevendo sobre o livro de Sitônio Pinto, que acabava de ser publicado numa segunda edição. Título da crônica: “Os tangerinos do Sertão”. Numa homenagem à memória do prezado amigo, transcrevo alguns trechos, começando pelo começo:
“Já citei aqui algumas vezes o livro “Dom Sertão, Dona Seca”, do escritor paraibano Otávio Sitônio Pinto, cuja segunda edição (a primeira é de 2002) foi lançada agora em maio em João Pessoa. Já disse aqui também que o livro deveria estar em todas as estantes nordestinas e cheguei a citar o saudoso Luís Augusto Crispim, outro grande escritor nordestino, que disse numa de suas crônicas de 2003, transcrita como orelha desta nova edição, que quando o livro de Sitônio fosse publicado por uma editora com sotaque paulista ou carioca ‘Não vai faltar quem o compare à Os Sertões ou a Casa Grande & Senzala. Antes que o digam, estou dizendo primeiro.”
“O livro é um ensaio. São 404 páginas passeando pelo sertão do Semiárido Nordestino (“Um ensaio multidisciplinar em que o Semi-Árido Brasileiro, redefinido pelo autor como Semi-Árido Irregular (SAIR), é visto e analisado sob diversos primas, à luz de várias ciências”, como está escrito na orelha do livro. Esse sertão que Sitônio gravou assim na quarta capa da primeira edição: “Deus fez o mundo em sete dias, mas refaz a caatinga em apenas uma noite. Pela manhã, com a água da chuva ainda escorrendo no chão carrasquento, a caatinga já se transformou no arco-íris vegetal que faz a festa dos homens e dos bichos. É a mudança mais brusca da natureza. O cinza transforma-se no verde salpicado de flores multicores. ”
“Aldo Lopes me trouxe o discurso que Sitônio Pinto fez quando do lançamento desta segunda edição de ‘Dom Sertão, Dona Seca’, festa promovida pela Academia Paraibana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e Associação Paraibana de Imprensa, das quais o autor é membro. Ele começa falando sobre o fado, lembrando a versão que essa música, tão portuguesa, teria nascido no Brasil. A partir daí Sitônio entra pelo sertão brabo do semiárido montado numa mula ou num jumento.”
Aldo Lopes e Sitônio Pinto não foram apenas grandes amigos. Os dois são conterrâneos nascidos na mesma aldeia, município de Princesa Isa- bel, sertão paraibano. A diferença de idade entre os dois é  12 anos. Sitônio mais velho (77 anos), Aldo, 65.  Um dos livros de Sitônio, “Sessão das Bruxas” (crônicas), é dedicado a Aldo Lopes. Um livro de Aldo, “As Estátuas do Sal” (contos), tem orelhas escritas por Sitônio. Outro livro de Aldo, o romance “A Dançarina e o Coronel, ” é dedicado a Dom Otávio Sitônio Pinto.
Amigos de verdade.
Prêmio Hermilo Borba Filho 
Na conversa com Aldo fiquei sabendo que ele está concorrendo ao 8º Prêmio Hermilo Borba Filho, promovido pela Secretaria de Cultura de Pernambuco em parceria com a Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), cujo objetivo principal é premiar escritores residentes nos quatro cantos do Estado: Zona Metropolitana, Zona da Mata, Agreste e Sertão. Três gêneros na disputa: Poesia, Conto, Romance.  Aldo no caminho do Conto.
Paraibano de nascença, Aldo vive há muitos anos em Natal, mas mantém casa no alto da serra (mil metros de altitude) que divide Princesa com o município pernambucano de Triunfo. Na nossa conversa do começo da semana, via internet, ele foi contando:
“Metade da minha casa fica no Estado de Pernambuco. Durmo no município de Triunfo, num quarto com aquecedor a óleo e desço às 10 da matina para o desjejum junto ao fogão de lenha, onde as panelas chiam sob a jurisdição da velha Paraíba, de São José de Princesa, e de seu município-mãe, terra de Zé Pereira e de nosso saudoso Otávio Augusto Pereira Sitônio Pinto, autor do formidável Dom Sertão, Dona Seca, que você tanto admira”.
Aldo, portanto, morador de Pernambuco com o direito de participar do concurso. Torcer, agora, que ganhe o Prêmio Hermilo Borba Filho- 2022.
Da Tribuna do Norte

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