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No tempo de estudante

15 de outubro de 2019

Nunca Fui um aluno aplicado. Dona Marluce, dona Nilva, dona Titica, dona Aretusa, dona Alice, Pai Zé, dona Maria Mandu, dona Maria Arruda, dona Clemens, entre outras professoras que tive, eram condescendentes com as minhas enroladas, mas todas sabiam da minha preguiça. Dessas citadas, dona Clemens Maia foi a única que teve coragem de reprovar-me no segundo ano primário. Foi um Deus nos acuda lá em casa.O velho Miguel Fotógrafo quase perdeu a esportiva naquele dia e só não levei uma surra de cinturão de couro cru porque corri desembestado pela estrada do Jatobá, só parando quando subi o topo da Serra do Gavião.

Dona Marisa ensinava matemática no Bom Conselho e era durona. Mas a dureza dela era apenas uma capa para encobrir um coração de manteiga. Tanto que nunca reprovou um aluno. E isso me salvou de novo, já que sempre fui inimigo da matemática, a ponto de, no segundo grau, ter fugido do científico e me escondido no clássico, somente para me livrar das contas e das regras de três.

Mas havia aluno que comia os números. Antonio Laurindo era um deles. Tanto estudou matemática que se tornou íntimo da professora. Dessa amizade nasceu a relacionamento dele com a amiga de Marisa, Maria Mandu, que resultou num casamento  que somente acabou com a chegada da morte.

Dona Aretusa era flor de laranjeira. Chamava os alunos de seus meninos e ai de quem inventasse de botar defeito em algum deles. Virava fera. Dona Titica também era um doce de pessoa e, aqui para nós, todos os meninos eram apaixonados pela sua beleza de raro esplendor e alguns chegavam a chamá-la de santa. Dona Nilva Carlos foi outra que ficou guardada na lembrança do menino que fui e do homem em que me tornei. Como ficaram dona Marluce com o seu francês impecável, dona Alice por ter sido a primeira entre as primeiras, dona Maria Mandu, dona Maria Arruda e Pai Zé, o grande Pai Zé, amigão, colegão, companheiro de farras e de serestas, de declamações e de recitais, um homem/menino que se tornava adolescente para imitar seus pupilos, mesmo que na cabeça teimassem em surgir os fios de cabelos brancos.

Os meninos das escolas envelheceram com o tempo e muitos mudaram até de feição. Zé de Ada engordou, Veronese embranqueceu os cabelos e deixou a barba crescer, Damião Antas já não joga mais fubica, Wellington Lima tornou-se jurista, Zé Jorge virou professor antes de morrer, Hermógenes é hoje um promotor aposentado, Geraldo Andorinha ingressou na política, Moab foi cobrar impostos como denorex, Lourdes Barbosa casou com Zé professor, Lourdes de Camilo já era avó na última vez que a vi, as filhas de Zé Marreta se danaram pra São Paulo, Lilia preferiu ser mãe de família,Antonio Laurindo botou uma bodega, Bosco Fernandes comprou posto de gasolina e casou com a saudosa Angelita, Maria Negão ficou viúva de Andrade, Zé de Lourenço casou com uma viúva em São Paulo, Zé Lambreta se amigou com uma velha (me contou Chumbinho, seu pai), João Duarte formou-se engenheiro, Sales da Timbaúba ganhou o meio do mundo, Aldo Lopes se fez poeta/delegado, Roque de Tião do Ó meteu a cara na cachaça e Ri Garateiro casou, descasou, enricou, quebrou, enricou de novo e estava na quinta mulher no nosso último encontro.

 

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1 Comentário

  • Reply Delfos 15 de outubro de 2019 at 10:35

    Hoje, Dia do Professor, não há o que comemorar.

    Resta a saudade!

    Saudade do tempo em que a educação era considerada prioridade.

    Saudade do tempo em que a universidade não era vista como balbúrdia.

    Saudade do tempo em que o país tinha ministro da educação, de verdade.

    Saudade do tempo em que as crianças e jovens sabiam que podiam ter um futuro melhor.

    Saudade….saudade…..Saudade com S maiúsculo!

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