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O ESPELHO DA VIDA

26 de abril de 2024

Por GILBERTO CARNEIRO

 

MUITAS vezes a gente se resguarda e engole sapos diante de fatos injustos. Mas há um limite. Esta semana ganhou repercussão a entrevista de um secretário do atual governo do Estado fazendo comparativo entre os governos de João Azevedo e Ricardo Coutinho, governo este que foi responsável por possibilitar ao secretário e ao governador João Azevedo estar nos cargos que ocupam atualmente. A repercussão deu-se muito mais pelos exageros, arroubos e deslealdade na fala do auxiliar do que propriamente pela qualidade da sua entrevista. Em dado momento, percebendo que não estava conseguindo atrair a atenção dos ouvintes e telespectadores, em um rompante de deslumbramento, empolgou-se: – “os investimentos do governo João Azevedo são dez vezes superiores aos realizados pelo governo de Ricardo Coutinho”.

 

Percebeu-se nesse instante que o entrevistador, que integrou o governo de Ricardo Coutinho como um dos seus auxiliares na pasta da Comunicação, sentiu-se constrangido e não comentou a fala inapropriada do secretário. Apenas no dia seguinte, percebendo o quanto havia sido desarrazoada a comparação, um dos integrantes da bancada do programa de rádio e TV lançou o desafio e convidou ambos, o ex-governador e o governador atual para um debate ao vivo. De pronto o ex-governador Ricardo Coutinho aceitou, contudo o governador João Azevedo adotou a estratégia da soberba para não aceitar o duelo: – “tenho mais o que fazer”, desdenhou.

 

O comentário do secretário foi infeliz sob dois aspectos: o da verdade e o da ética.

 

Qualquer pessoa, independente da sua ideologia política, mas que seja minimamente razoável, identifica no governo de Ricardo Coutinho uma operosidade sem precedentes. Independente de pré-julgamentos levianos que fazem sobre a honestidade do seu governo, o certo é que há praticamente unanimidade no reconhecimento que a sua gestão revolucionou o Estado, como um todo; na saúde; na educação; na infraestrutura; na segurança hídrica; na transparência; no empoderamento da sociedade civil através do orçamento democrático; na segurança pública; na redução dos indicadores de mortalidade infantil; de analfabetismo; de letalidade e de aumento dos indicadores socioeconômicos.

 

Na área da saúde, embora seja justamente nesta área que existam as acusações de má aplicação dos recursos, nenhuma delas comprovadas, o certo é que no mínimo gera uma contradição perceber que o hospital de Trauma tornou-se uma referência em seu governo, de João Pessoa e Campina Grande; que construiu o hospital Metropolitano Dom Jose Maria Pires – uma referência para a América Latina – o hospital de Oncologia de Patos, o de Mamanguape e tantos outros investimentos feitos que o espaço aqui não me permite dissecar.

 

Transmudando para a área da Educação é fato constatar as inúmeras escolas técnicas construídas e, consequentemente o abandono das mesmas pela atual gestão. Digo e afirmo isso porque recentemente participei da organização de um Encontro de Jovens com Cristo – EJC, que foi realizado na expoente estrutura da Escola Técnica Estadual de Mangabeira, construída no governo de Ricardo Coutinho, um importante equipamento em que se intentava consolidar-se como um pólo de ensino profissionalizante na zona sul da capital. No entanto, uma lástima a situação em que se encontra a escola. Toneladas de lixo foram recolhidos pelos voluntários do EJC, ar-condicionado quebrados, carteiras escolares destruídas, banheiros imundos e uma sensação de abandono capaz de gerar nos alunos uma alegria e felicidade que deu gosto de ver quando retornaram às aulas e encontraram as salas varridas, limpas e banheiros higienizados na segunda-feira pós-encontro.

 

Caminhando até a infraestrutura, a área comandada pelo secretário pomposo do atual governo, o impacto positivo gerado na mobilidade urbana pela construção dos Viadutos do Geisel e o de Mangabeira na gestão do ex governador Ricardo Coutinho contrasta e humilha a construção de uma ponte pelo atual governo que busca interligar as três ruas ao campus da UFPB. Detalhe: um erro básico na engenharia do projeto deixou a ponte 4 metros acima do nível da avenida que busca interligar. Qualquer pessoa que por lá passar e tenha a curiosidade de observar, perceberá o desnível e a dor de cabeça que estão tendo para corrigir o erro. Talvez resida aí o fato da obra se arrastar sem previsão para terminar, que é feita em parceria com o caboclinho.

 

Sob o ponto de vista ético, a declaração foi por demais inconsequente, infeliz e desleal. O secretário tinha por obrigação respeitar a verdade, seja porque sabe que a sua declaração é infundada, e a razão disso é o fato de ter feito parte das duas gestões; seja porque haveria uma obrigação inata de fazer a declaração como verdadeira, tão somente por uma questão óbvia: João Azevedo assumiu o governo com todos os pagamentos de fornecedores em dia; folha de pagamento em dia,; nenhuma pendência financeira no Siafi  e muito dinheiro em caixa, mais precisamente 500 milhões, 300 na fonte 100 e 200 em convênios; ou seja, João Azevedo tinha obrigação de fazer um governo melhor do que o de Ricardo Coutinho e assim dar as condições genuínas para o secretário ir a público falar a verdade e não mentiras, dizer que João Azevedo fez mais, muito mais que Ricardo Coutinho porque este deixou as condições necessárias para essa proeza.

 

A filosofia explica que o ato de se comparar intensamente é como manter uma imagem distorcida o tempo todo no espelho da vida. É um indício típico de baixa autoestima. A pessoa não acredita em si mesma, é insegura e exerce a comparação como uma forma de autoafirmação. Quem confia em si não fica fazendo comparação, pois é importante questionar se o ideal projetado nos outros não é um ideal do próprio inseguro, ou seja, algo que ele quer alcançar, mas que não admite que é dele, sendo mais fácil olhar o ideal no outro em vez de si mesmo.

 

O ser humano, em regra, é desleal e a ambição pelo “Poder” faz cegar o seu olhar para o passado. Para estas pessoas o que importa é aonde estão, pouco interessa por quais razões lá estão. E assim, o ilustre secretário esqueceu de se olhar no espelho da vida. Contudo, – “o tempo, ah o tempo, este é a imagem móvel da eternidade imóvel”, escreveu Platão.

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7 Comentários

  • Reply Isaac 26 de abril de 2024 at 15:44

    Só fiquei na dúvida com relação à ponte das três ruas, não seria 40 cm????
    O valor de 4metros de desnível está incorreto…

  • Reply José Arnaldo 27 de abril de 2024 at 09:02

    Dr. Gilberto, entendo a sua vontade de defender o governo ao qual serviu. Agora convenhamos, apontar erro de engenharia no projeto da Ponte das Três Ruas, ultrapassa seus conhecimentos de pedreiro. Na verdade, existe um desnível de relevo entre a Avenida Stanislau Eloy e as Três Ruas. Agora como está no projeto, isto será vencido com rampas como ocorre no greide de qualquer via rodoviária. Até uma criança brincando de carrinho entende isto. Continuarei sendo seu leitor. Um feliz fim de semana.

    • Reply Gilberto Carneiro da Gama Gama 27 de abril de 2024 at 11:52

      Agradeço a contribuição dos leitores.
      Mas o fato é que o desnível existe e os próprios leitores afirmam isso.. Qualquer pessoa que passar e observar a obra, que possua minimamente bom senso, e conhecimentos de “pedreiro, um profissional que muito respeito e admiro, perceberá o desnível, que não seria tão ostensivo se fosse apenas de 40 cm.
      Quanto a defesa do governo que fiz parte, não apenas eu, mas também o secretário Deusdete e o governador João Azevedo tem obrigação de defender. Ou eles não fizeram parte?

    • Reply José Arnaldo 27 de abril de 2024 at 13:11

      Dr. Gilberto, muito obrigado por ter me dado atenção. Isto me eleva ao seu nível, já que estamos falando em desnível.
      Não tenho o propósito em polemizar. Apenas quero convidá-lo para a inauguração dessa obra que o Senhor certamente vai utilizá-la e perceber quão importante e bem construída ela o é. Vá Doutor, mesmo de longe, se assim o deixar mais confortável.

    • Reply Violeta Costs 27 de abril de 2024 at 14:45

      Não é tendo nada de engenharia. Mas, sei que até a estrada de chegar ao céu, tem suas rampas. Cabe a nós vencê- las.

  • Reply Gilberto Carneiro 27 de abril de 2024 at 12:02

    Agradeço a contribuição dos leitores!
    Mas o fato é que o desnível existe e os próprios leitores atestam isso.
    Mesmo com conhecimentos de “pedreiro”, um profissional que muito respeito e admiro, é perceptível a olho nu mesmo para os leigo, e 40 cm não seria tão ostensivo.
    Quanto a defesa do governo que fiz parte, tenho orgulho de tê-lo integrado e defendê-lo, assim como o secretário e o governador atuais, ou eles não fizeram parte?

  • Reply Gilberto Gama 2 de maio de 2024 at 08:22

    Para encerrar o debate. Agradeço o leitor pelo convite, percebe-se que é uma pessoa educada, não só me convidou para a inauguração da obra pública como me autorizou transitar por ela. Então retribuo com uma sugestão: apressar-se, apressar-se para instalar as rampas, corrigir o desnível, inaugurar a obra, e assim tranquilizar o caboclinho. O calendário eleitoral bate à sua porta.

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