Por GILBERTO CARNEIRO
FAZIA algum tempo que estava ali, absorto em seus pensamentos. O crepúsculo trazia consigo a beleza dos últimos raios de sol refletidos nas águas prateadas do oceano Atlântico.
É véspera de Natal. Alguns familiares e amigos o convidaram para a ceia natalina em suas casas, mas preferiu estar ali, sozinho.
Na sua solitude tem a compreensão que o Natal é uma data fortemente associada à união familiar, celebração e completude. É o Advento, o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, precisa estar ali, sozinho, afinal é o primeiro Natal que irá passar sem a companhia dela, sua mãe, lady Bernadeth.
Mas será se está sozinho mesmo? É como se sentisse a presença dela, sentada ao seu lado, contemplando o mar e repetindo a frase que sempre pronunciava. – “ o que é horizonte? É o circulo que limita nossa vista. Ao longe parece unir o céu e o mar”.
Dom Luciano naquele instante aceitou a tristeza, o silêncio e as lágrimas sem culpa. Sabia que logo após uma perda, as pessoas costumam compreender melhor a dor e aceitar que estamos de luto. Com o passar do tempo, porém, essa compreensão tende a diminuir e, muitas vezes com boas intenções, surgem comentários sugerindo que já passou da hora de seguir em frente ou deixar a tristeza de lado.
Dom Luciano não se preocupa muito com o julgamento dos outros. Sua filosofia vai muito no sentido de lembrar de sua matriarca referenciando o amor e, assim, manter a conexão com o seu legado de memórias, afinal cada um tem seus dogmas, seu jeito de pensar sobre o mundo e de manter relacionamentos com quem ama. É assim que me sinto também em relação a ausência do meu pai.
Envolvido com estes pensamentos aos poucos o coração do meu amigo vai se confortando, o fazendo perceber que estar ali, aonde ela queria estar, proporciona que ela sinta o mar através da sua alma, dos seus olhos e, por algum instante, a vê ao lado sorrindo, seu rostinho meigo com os olhinhos miúdos encantados com a visão das águas serenas do mar.
É quando seu coração afasta a tristeza e se enche de alegria, e vai para casa, vai para casa preparar a receita predileta dela e acender uma vela em ação de graças pelos cem anos bem vividos de Lady Bernadeth.
Feliz Natal!




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