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Porque hoje é sábado

26 de agosto de 2023

Para um sábado como esse, onde a saudade aperta dentro do coração de quem está longe da terrinha natal, nada melhor para compensar isso tudo do que falar de poesia. E poesia verdadeira, aquela que sai do improviso, feita pelo cantador de viola, o poeta repentista que não cursou faculdade mas dá lição em doutor. O poeta que faz o verso sem pé quebrado e movido somente pela inspiração que Deus lhe deu. Vamos a ela, então:

Tristeza é de quem nasceu

num quarto de cabaré
sem fraldinhas no berço
nem sapatinho no pé
olhando o rosto da mãe
sem saber o pai quem é (João Bandeira)

Pobre morando em cidade
de qualquer forma se aperta.
a conta da luz não falta,
a conta da água é certa.
De graça só entra o vento
quando encontra a porta aberta (Adauto Ferreira)

Aqui, neste cemitério,
onde estamos após,
foi a onde nossos pais
pisaram nossos avós.
Nós pisamos nossos pais
nossos filhos pisam nós. (Antônio Marinho)

As estrelas são safiras
encravadas no infinito,
que a mão do criador
com seu trabalho bonito,
deixou do lado de fora
pro céu ficar mais bonito (Ascendino Alves)

Até mesmo nas igrejas
o racismo está escrito:
Fala-se de todo santo,
que seja branco e bonito,
mas é difícil se ouvir
falar de São Benedito. (Canhotinho)

Não há tristeza no mundo
que se compare à agonia
dos olhos de um cachaceiro
vendo a garrafa vazia (anônimo)

Não há tristeza no mundo
que se compare à tristeza
do sujeito ver um fundo
e não ficar de vela acesa. (Zé Areia)

Basta somente uma caixa
de melhoral infantil
um pacote de bombril
meio saco de bolacha
uma prateleira baixa
nem precisa ser comprida
meia grade de bebida
e um quixó pra pegar rato
uma bodega no mato
com pouca coisa é sortida. (Manoel Francisco)

O cabra quando é ruim
só pratica coisa à tôa:
Vê uma mulher perdida
esquece logo a patroa,
fica chaleirando a ruim
para dar desgosto à boa. (Pedro Amorim)

Eu também sou caçador
onde tiver bicho eu acho
agarro a onça na serra
vou matá-la num riacho
deixo de perna pra riba
pra ver se é fême ou macho. (José Limeira)

Teu verso tem a pureza
que a lua tem no brilho
o zéfiro brando que passa
soprando o pendão do milho,
e as lágrimas de uma mãe
se despedindo do filho. (Pedro Amorim)

Velhinha quando eu morrer,
conserve a minha viola,
coloque numa sacola
e deixe o rato roer,
barata dentro viver,
morcego morando nela,
o cupim comendo ela
ela perdendo o valor,
só não deixe cantador
botar mãos no canto dela. (Pinto do Monteiro)

Saudade é um parafuso
que tendo rosca não cai;
só entra se for torcendo,
porque batendo não vai.
Depois que enferruja dentro,
nem destorcendo ele sai. (Dimas Batista)

Você só fala em peito
mas peito não me embaraça
mais peito que você tem
tem uma porca de raça
tem logo duas carreiras
mas de uma porca não passa. (Lourival Batista)

De tanto procurar besta
encontrei este rapaz
pensando que fosse besta
que fosse um besta capaz
mas nem pra besta ele presta
porque é besta demais.(Cego Aderaldo)

Na vida provei abalos
e desesperos medonhos…
sonhos, sonhos e mais sonhos,
sem nunca realizá-los.
Na fronte inda trago os halos
das auras da juventude
porém não tive a virtude
de dormir entre dois seios,
não tive amores, sonhei-os,
mas possuí-los não pude.

Pensaram que eu tinha esquecido, né? Esqueci não. Lá se vão meus abraços sabadais para Edson Vidigal Filho, Gilberto Carneiro da Gama, Yure Mariano, Luciano Arroz, Tadeu Mendes Florencio, Emanuel Arruda, Edmilson e Miguel Lucena, Sargento Nivaldo, Gibram Motta, José Euflávio Horácio, Hermes de Luna, Oswaldo Jurema, Adalberto Targino, Ariano Vanderley, Josivan Gomes, Alfredo Sá Neto, Ricardo Cecil, Marcos Ramalho, Geraldo Luiz e Raimundo Campos.

 

Seu Janjão morava no Róger, era comerciante, viúvo e tinha um chamego com uma balzaquiana residente no Cristo. Uma vez por semana apanhava ela de carro, levava para um motel em Cabedelo e, ao se despedir, a “presenteava” com quinhentos cruzeiros. Na última vez, quando ainda se dirigiam para o motel, a namorada ponderou:

– Seu Janjão, como o senhor sabe a gasolina subiu e por isso eu vou aumentar meu “presente” para mil cruzeiros.

Seu Janjão fez meia volta no carro, acelerou em direção ao Cristo e avisou para a amada:

– Sendo assim vou procurar um chibiu a álcool”.

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3 Comentários

  • Reply Edmundo dos Santos Costa 26 de agosto de 2023 at 07:51

    A TRISTEZA É UM IMPULSO
    E DA NATUREZA PROVÉM,
    À EMPURRAR QUALUER SER
    EM DIREÇÃO AO SEU BEM.

    É UMA FORÇA “HIDRÁULICA”
    QUE SAI LÁ DO CORAÇÃO.
    E SAUDADE SÓ NÃO SENTE
    QUEM TÁ DEBAIXO DO CHÃO.

    SAUDADE DE UMA PAISAGEM,
    DE UM AMIGO E DO TORRÃO
    SAUDADE NÃO É VISAGEM
    TEM REAL CONOTAÇÃO.

    NA SAUDADE HÁ TRISTEZA,
    MISTURADA À MELANCOLIA,
    MAS PODE SER UMA FORMA
    QUE TAMBÉM TRAZ ALEGRIA.

    POR EXEMPLO: NO ROMANCE
    QUE SE DESFEZ E NÃO VOLTA,
    PORÉM AS LEMBRANÇAS BOAS
    NOS AFASTAM DA REVOLTA.

    O TEMPO NÃO ARREFECE
    A SAUDADE ANGUSTIANTE
    MAS TAMBÉM NÃO ESMORECE
    O PODER DO AMOR CHEGANTE.

    A SAUDADE É UM GRUDE
    QUE FICA DENTRO DA GENTE
    MESMO COM NOVA SAUDADE
    AINDA ESTARÁ PRESENTE.

  • Reply Paulo Fernando Menezes Almeida 26 de agosto de 2023 at 11:48

    Sensacional! Poesia de raiz, a mais genuína das poesias, pois vem d’alma dos cantadores nordestinos, que já nascem com ela.

  • Reply Valberto José 26 de agosto de 2023 at 14:01

    Na vida provei abalos
    e desesperos medonhos…
    sonhos, sonhos e mais sonhos,
    sem nunca realizá-los.
    Na fronte inda trago os halos
    das auras da juventude
    porém não tive a virtude
    de dormir entre dois seios,
    não tive amores, sonhei-os,
    mas possuí-los não pude.

    Tião, segundo Braulio Tavares, em artigo de 2008, esses versos seriam de Lourival Batista, glosando um mote de Raymundo Asfora

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