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Princesa faz festa para a melhor farinha do país

19 de setembro de 2019

  • Por José  Carlos dos Anjos Walack

A 7 km do centro de Princesa Isabel, município do alto sertão paraibano, quatro povoados vivem em torno de um produto que está para a mesa do nordestino como a sanfona está para o forró: a mandioca, de onde sai a farinha, ingrediente indispensável no prato do caboclo sertanejo.

As comunidades de Lagoa de São João, Macambira de Lagoa de São João, Cedro e Moça Branca se orgulham em produzir a melhor farinha de mandioca do Brasil, um título consolidado por consumidores e por estudos científicos.

O que leva a farinha de Princesa Isabel a esse patamar é a terra, uma faixa branca que se estende por 8 km nessa área. Há outros fatores, como o clima e a altitude: “Estamos a 666 metros acima do nível do mar e isso também influencia”, assegura seu Audeci Nunes da Silva, agricultor, vice-presidente da Associação Comunitária dos Pequenos Produtores da Lagoa de São João. Mas ele afirma que é principalmente a terra e os compostos nela existentes que garantem a alta qualidade da mandioca ali cultivada, hoje vendida na paraíba, Pernambuco e São Paulo.

O povoado existe desde 1943, sempre com o cultivo principal de mandioca. As demais comunidades foram surgindo aos poucos, à medida que os agricultores iam descobrindo a excelente adaptação da cultura àquelas condições de produção.

Hoje, moram na área 400 famílias que cultivam anualmente até 300 hectares de mandioca, com produção média de 200 toneladas por hectare.

Cuidado com o trabalho

No beneficiamento da mandioca e da macaxeira, os produtores utilizam tanto as técnicas antigas, como procedimentos mais modernos. Antes, se ralava a mandioca em ralo de milho e se assava numa pedra, mantendo uma tradição indígena, e porque as famílias não tinham condições de comprar equipamentos, lembra Maria do Bom Conselho Rosas, professora e incentivadora cultural na comunidade. “Hoje está mais moderno, com forno elétrico, mas procuramos preservar as raízes culturais”.

A associação procura melhorar a produtividade ampliando a área de cultivo e investindo na modernização do processo de beneficiamento. Isso, entretanto, é feito com o cuidado de não substituir a mão-de-obra, como explica a presidente da entidade, Kaline Fernandes dos Santos: “Antes as atividades eram muito mais braçais. Agora já temos alguns equipamentos elétricos. Mas precisamos também proteger a mão de obra, por isso decidimos que a modernização não justificaria a compra de máquina para raspar a mandioca, porque tiraríamos o trabalho das raspadeiras, e não seria justo”.

Em todo o Brasil, mas sobretudo no Nordeste, a mandioca é de grande importância para o produtor rural. Porque, sendo a base alimentar e podendo ser cultivada em pequenas áreas, é também estratégica para a geração de emprego e renda.

Na Paraíba, a mandioca é produzida em 130 municípios numa área total de 25 mil hectares. O cultivo predominante ocorre no modo agricultura familiar.

Cadeia diversificada

Da mandioca, as família produzem, principalmente, farinha, goma, massa puba e beijus. Mas a cadeia produtiva dessa raiz adquiriu mais itens com o passar do tempo e a partir do momento que essas comunidades adotaram conceitos da economia criativa.

O que era apenas farinha, hoje também é lasanha, torta, sorvete, rocambole e outros derivados vendidos em feira mensal dos produtores rurais na comunidade de Lagoa de São João, nas feiras livres, supermercados e mercearias do município de Princesa Isabel e cidades próximas.

Um evento para consolidar a cultura da mandioca

Mas a importância da mandioca e a farinha produzidas em Princesa não se limita à questão econômica. Essa atividade traz consigo uma enorme carga cultural, que remonta à presença dos índios na região e vai passando por gerações de colonizadores.

No decorrer desse tempo foram construídos hábitos e costumes coletivos que expandiram a representatividade agrícola para um sentido cultural e de tradições.

Essa energia fez surgir, em 2003, a Festa da Mandioca, um evento que une gastronomia, música, palestras, visitas, reuniões, treinamento, demonstração de método, excursões, apresentações culturais, exposições e venda dos derivados da mandioca. Num formato diferente, os agricultores e suas famílias de agora fazem o que os antepassados faziam: comemoram a lavoura, o alimento na mesa, as brincadeiras rurais e a vida.

O objetivo geral é fortalecer e divulgar a atividade da mandiocultura da Serra do Teixeira. Mas também tem a função de gerar conhecimento para visitantes e para os produtores.

A comunidade coloca a Festa da Mandioca como resultado da própria atividade produtiva e garante que ela estimula a produção.

Desde a primeira edição do evento, os produtores constataram aumento de 300% na área plantada, a melhoria do processo de organização da produção, crescimento de 200% na produtividade, geração de emprego e renda e melhoria na qualidade de vida da comunidade.

O prefeito de Princesa Isabel, Ricardo Pereira, disse que esse evento e outros promovidos na cidade têm destaque no calendário regional e nacional. “Estamos procurando fortalecer as políticas que incrementam o setor turístico. Princesa é uma cidade de grande significado histórico e isso é fundamental para o turismo”.

Segundo Ricardo, hoje o município tem dez pousadas, bons restaurantes e pizzarias. “São aproximadamente 300 apartamentos para receber os visitantes”, informa. A gestão tem firmado parcerias com o Sebrae e Empreender PB para resgatar potencial turístico.

A programação

Desta sexta-feira (20) até o domingo (22), as quatro comunidades realizam a 17ª Festa da Mandioca, um evento cultural que já integra o calendário nacional das festas agrícolas. O ponto alto são as barracas de comidas, onde os locais e os visitantes podem conhecer e provar das iguarias feitas a partir da mandioca.

Uma missa às 19h da sexta, na Capela de São João Batista, abençoa a festa. Uma hora depois, o evento é aberto oficialmente na pracinha central, seguindo-se apresentações culturais: roda de capoeira, Quadrilha da Macambira e o grupo de dança Raízes de Lagoa de São João, fundado e coreografado pela educadora Selho Rosas e formado por Alice Rosas, Geovana Rosas, Gabriela Siqueira, Keyla Serafim, Fabrícia Pena, Riane Medeiros e Laiz Bem. A partir das 22h haverá shows musicais.

No sábado, a programação começa às 14h, na casa de farinha central, com palestras sobre mandiocultura, adequação das casas de farinha da comunidade e energia solar, ministradas por técnicos da Empaer, Sebrae, Banco do Nordeste e Instituto Federal de Tecnologia da Paraíba. À noite ocorrerão as escolhas da rainha, rei e princesa da festa, e mais shows musicais.

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1 Comentário

  • Reply chico de trás 19 de setembro de 2019 at 18:44

    Que esse ano o Clima ajude ainda mais!
    e que traga grandes Mandiocas à todos!

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