João Pessoa está muito quente, até o ar que entra para os pulmões vem quente, mais parece um bafo. Fala-se que em janeiro a quentura aumenta, pois começa o verão. Aí lascou. Se pelo menos caísse uma chuvinha.
Dezembro se finda sem chuvas. Caíram algumas, mas em locais isolados, sem sustança e sem cara de estar anunciando a invernada do novo ano. Nosso povo do sertão sabe que se dezembro findar seco, sem as trovoadas da esperança, o ano será ruim para os agricultores.
Faz tempo que não vejo um alagado, uma rua cheia, o mercado da Torre transformado em açude e os feirantes transformando portas de geladeiras em canoas.
Faz tempo que não se fala em barreira caindo, casa desmoronando, terra virando lama e carros atolando.
Eita como faz tempo que não aparece no horizonte a nuvem escura, com o bucho cheio de água para despejar sobre a terra esturricada.
Nas viagens para o brejo, a paisagem é a mais triste que se pode imaginar. Logo o brejo que desconhecia seca e abrigava o sertanejo faminto e sedento na sua fuga de retirante.
Pois o brejo secou. Não tem água nem pra beber. As pessoas fazem fila, carregando latas e panelas, para receber uma esmola de água do carro pipa.
Inverteu-se tudo? Nem tanto, porque no sertão a pancada do bombo é a mesma. Do sertão ao litoral, de Cabedelo a Cachoeira dos Índios, o que menos se avista é verde e o que mais se vê é terra seca, galhos sem folhas, solidão e pretume.
Os bois, os poucos que restaram, andam devagar carregando com eles os esqueletos descobertos.
E para acabar de acabar, esse calor de fogo, de brasa acesa, de assar ovo no asfalto.
Será que o mundo vai se acabar?
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