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Seu Vicente, boa viagem!

14 de abril de 2019

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Somente hoje fiquei sabendo que Vicente Nóbrega morreu.

Sabia que estava internado, na UTI, mas achava que tiraria de letra mais essa.

Não tirou.

O pai dos meus amigos Rubens e Robson foi integrar a orquestra celestial, foi fazer acordes para São Pedro com seus sax afinado.

Sim senhor, Vicente Nóbrega era um exímio saxofonista.

Tocava bem e ensinava ainda melhor.

Depois de aposentado, criou uma escola de música em Jaguaribe, onde o aprendiz estudava de graça. E se o aluno não tivesse instrumento próprio para praticar, tocava no instrumento que Vicente Nóbrega conseguia com os amigos, através de doação.

A última vez que conversamos ele falou da escola. Faz tempo isso.

A gente mora numa mesma cidade, mas pouco se vê. Melhor era no tempo do sítio, onde a falta de televisão, de celular e de cinema aproximava mais os amigos para aquelas conversas de fim de tarde no alpendre de casa.

Rubens nos aproximou.

Trabalhava com Rubão desde os tempos antigos de A União. E de A União em diante, tivemos parcerias inesquecíveis. Participamos das noites de terror pós morte Paulo Brandão e depois, mesmo separados, sempre mantivemos um alô respeitoso .

E nas vezes que conversei com o maestro, sentia no rosto dele aquela luz de alegria quando falava do filho.

Vicente já passou por Princesa, tocou com Manoel Marrocos, outro monstro sagrado do saxofone.

Falamos muito da terra do coronel Zé Pereira. Ele um dia pegou os meninos e fez um passeio para matar as saudades. Rubens me contou.

Eu achava que Vicente ia viver até enjoar. Seu porte atlético me falava isso.

Mas como viver eternamente por aqui deve ser uma chatice, ele escolheu partir.

Deve estar fazendo dueto a esta hora com Manoel Marrocos, sendo acompanhados, Marrocos e ele, pelo pinicado do violão de Canhoto, outro princesense ausente dessa terra cada vez mais árida.

Ficamos nós.

A Rubens e a Robson, o único consolo que posso oferecer é este: Agora empatamos, somos todos órfãos. Eu também fiquei sem meu velho já faz um tempinho. Dói nos primeiros dias, mas com o passar do tempo a dor ameniza e é trocada pela saudade.

Saudade que não morre nunca.

Faz morada no peito do coração e nos acompanha até o reencontro com aqueles de quem lembramos.

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