Sobrevivi a depressão, por Fabiano Gomes

Aos meus psiquiatras: Alfredo e Dinarte.

O vazio é imenso.

Um nada paralisante.

Tudo a sua volta – família, profissão, patrimônio – perde osentido.

E isso é só uma mostra, verbalizável, da dor da depressão.

Eu a senti, por três infindáveis meses.

Tempo em que a comida não tinha sabor, o prazer acabou, e até o ato de respirar parecia inútil.

Não conseguia sair do quarto e cumprir um ritual básico como tomar banho e me alimentar.

Enquanto a pergunta inevitável rondava a mente de forma persistente: por que – e para quê – se está aqui?

Dói.

Dói muito.

Mais do que qualquer chaga visível. Mais do que qualquer ferida infeccionada.

Pois não há anestésico para a dor da alma.

E ela é tão lancinante que muitos não resistem.

Nosso amigo Heraldo Nóbrega não resistiu.

800 mil pessoas não resistem ao redor do mundo, todos os anos.

A depressão, e seu golpe letal – o suicídio – , já é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

E é preciso falar sobre isso.

Desestigmatizar.

Impedindo que mais pessoas doentes ouçam que estão com “frescura”, como eu mesmo ouvi.

Uma “frescura” que só cessou quando busquei ajuda psiquiátrica e farmacológica.

É preciso falar, por exemplo, que há tratamento.

É preciso divulgar que há ajuda (188 – Centro de Valorização da Vida).

É preciso alertar que a distância entre o fim e o recomeço pode ser de um simples telefonema

É preciso, ainda, dizer que toda essa angustia e desesperança, toda essa dor e rendição, tem (muitas vezes) mais a ver com sinapses malfeitas do que com a vida e o mundo.

É preciso atestar que é possível vencer a depressão.

Rencontrar o sentido na existência. E até – acredite – voltar a ter alegria de viver