opinião

SONÂMBULISMO SOCIAL

17 de setembro de 2023

 

Por GILBERTO CARNEIRO

O LEITOR conhece o fenômeno dos efeitos da pressão social de grupos? Eu próprio só tive a dimensão quando li a obra científica: “A experiência de conformidade de Asch”.

O experimento científico do pesquisador Solomon E. Asch, pioneiro em psicologia social, consistiu em colocar em salas de aulas de instituições de ensino 123 estudantes universitários para um experimento de julgamento visual, a princípio, extremamente simples. O experimentador apresenta a informação de que estarão comparando o comprimento de linhas. Mostra dois grandes cartões brancos. Num deles há uma única linha vertical preta – o padrão cujo comprimento deve ser comparado. No outro cartão há três linhas verticais de vários comprimentos. Os sujeitos devem escolher aquela que tenha o mesmo comprimento da linha do outro cartão padrão. Uma das três linhas tem realmente o mesmo comprimento da linha do outro cartão padrão, enquanto as outras duas são bem diferentes, variando entre 19 até 34 mm.

Pois bem. O experimento começa sem maiores dificuldades, pois quase todos distinguem objetivamente as linhas de comprimentos iguais. Todavia, na segunda etapa do processo, dos 123 colocados à prova, a maioria, 65 estudantes, por orientação proposital do experimentador, erra grosseiramente ao fazer o comparativo das linhas de iguais comprimentos. Na terceira etapa começa a ocorrer o fenômeno dos efeitos da pressão social do grupo, pois um considerável número de estudantes, 48, acaba por submeter-se à maioria, mudando seu julgamento sobre a linha igual à correspondente ao modelo padrão.

Assim é que, se em condições comuns os indivíduos que compararam as linhas apresentaram menos de 1% de erros, sob a pressão do grupo, os 58 sujeitos em minoria, passaram a aceitar as respostas erradas das 68 pessoas que compunham a maioria, permanecendo apenas 23, dos 58 que formavam a minoria do total dos 123, convictos sobre suas escolhas da linha correta quando comparada com o modelo padrão.

Evidentemente, os participantes apresentaram grandes diferenças nas respostas. Num extremo, aproximadamente a quarta parte dos sujeitos permaneceu completamente independente e nunca concordou com os julgamentos errados da maioria. No outro extremo, alguns acompanharam a maioria quase todas as vezes. Geralmente, os que começavam no caminho da independência não se submetiam à maioria, mesmo numa série ampla de tentativas, enquanto que os que escolheram o caminho da submissão foram incapazes de libertar-se da pressão da maioria.

Entre os sujeitos independentes, muitos resistiram porque tinham grande confiança em seu julgamento pessoal. O fato mais significativo a seu respeito não era a ausência de sensibilidade à maioria, mas a capacidade para superar a dúvida e restabelecer o equilíbrio. Outros que agiram independentemente passaram a acreditar que a maioria estava correta, mas continuaram a discordar a partir da posição simples de que sua obrigação era descrever o que viram.

Entre as pessoas que apresentaram submissão extrema, encontramos um sub grupo que logo chegou à seguinte conclusão: – “Eu estou errado, eles estão certos”. Outros concordaram para não “prejudicar os resultados”. Muitos dos que não se submeteram à vontade majoritária suspeitaram que os que acompanharam a maioria o fizeram como “cordeirinhos”, sem opor nenhuma resistência.

Talvez seja com base neste estudo que o psicólogo, sociólogo e filósofo Jean-Gabriel de Tarde imortalizou o seguinte aforismo: “O homem social é um sonâmbulo”. Então, cuidado com os grupos, não se deixe encantar demais ao ponto de perder a capacidade crítica na sua forma de ver o mundo.

 

 

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