opinião

Um moicano, um cigarro, um copo e uma mesa de bar

21 de julho de 2021

TARCISIO NEVES

Aqui, recolhido no meu regaço, vendo o sol se escondendo por entre as nuvens, me vem esta notícia maravilhosa: a cura da doença do meu velho amigo tão fodinha quanto o velho jornalista Wellington, de faro, veia e talento, daqueles que não se fazem mais numa redação de jornal, muito menos num laboratório.

Só restou a saudade, porque o jornalismo decadente, imbecil, capenga e agonizante praticado hoje em dia é aquele onde se confunde blogueiro e influenciador (?) com jornalista.

Blogueiro? Alguém pode me dizer o que porra é isto? E influenciador?

Alguém pode me dizer também o que porra é isto?

Influenciador de quê?

Fique tranquilo, eu mesmo respondo: influenciador da degeneração moral e intelectual de uma geração de imbecis conforme previra Einstein, em 1955, se não me engano…

Chamemos o Elvis pra cantar Aleluia, Fodinha!

E graças a Deus pela tua vitória

Doença desgraçada que já matou tantos amigos e pessoas amadas e outras tantas queridas. Doença que me fez chorar a morte da minha mulher, cuja mama foi dilacerada por um tumor desgraçado que avançou silenciosamente.

Linda, amada e querida, que me deu filhos – um deles tão parecido com ela, que, talvez se tivesse nascido menina, não pareceria tanto. A única diferença é que é macho, e macho pra valer.

De cabelos belos e longos que lhes escorregavam suavemente sobre o dorso até o cóccix, mergulhou na amargura de vê-los derretendo pela força avassaladora da quimioterapia.

Me doía tanto que até hoje não curei minha dor. E eu ali, me sentindo um ser impotente, sem poder fazer nada, porque a doença era mais forte que o tratamento.

Até que num amanhecer de março, como as chuvas de Jobim, o dia amanheceu para mim cheio de trevas

Ela levantou-se e caiu sobre os meus braços, sem forças. Mal respirava porque da mama, virara metástase e destruira seus dois pulmões.

Li naqueles olhos negros que tanto já haviam me sorrido, o pedido desesperado de socorro. E eu, que tanto sonhara ser um mágico, não consegui fazer nenhuma mágica para salvar a vida da mulher que tanto amei – e amei perdidamente, como diria Erasmo Carlos, in O Amor é Isso.

Só restou-me deixar as lágrimas escorrerem teimosamente aos borbotões pelo meu rosto, como uma cachoeira que mergulha num nada e se espalha sobre as rochas.

Ah… Se fossemos mágicos e fizessemos o tempo voltar!

Os cabelos de algodão que hoje enfeitam a cabeça deste homem maduro, são a prova viva de um daqueles velhos moicanos que dedicaram a vida inteira ao jornalismo.

E me fez voltar aos tempos do Bar da API, do Pavilhão do Chá, do Cassino da Lagoa, onde tantos outros jovens, como Wellington, Tião, Edmilson, Hilton, Carlos Vieira, Toinho, Pedro, Vicente, David, Vanivaldo e tanto outros começavam a escrever uma história que ficou marcada para sempre na imprensa paraibana.

Mas tudo se foi e continua indo…

Porque também é bom falar de saudade numa segunda-feira, aínda que não seja regado a um bom vinho. Afinal, tomei minha cota no domingo.

E vida longa, Wellington!

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3 Comentários

  • Reply Wellington Farias 21 de julho de 2021 at 06:12

    Aita, gota! Fiquei comovido com este belíssimo texto do meu querido amigo e jornalista Tarcísio Neves. Lamento que sua companheira não tenha resistido. Quanto a mim, a minha ficha ainda não caiu, porque a notícia é boa demais pra ser verdade. Mas, além de cancelar a quimioterapia, a médica não prescreveu medicamento nenhum. Vou ficar em observação, voltando a cada três meses ao hospital. A doença pode voltar? Pode, como qualquer outra. Mas voltar será apenas una possibilidade. Estou curado e Deus haverá de me manter assim por mais 50 anos. Velho Tarcísio, um abraço. Se cuide e se vacibe.

  • Reply João Lobo 21 de julho de 2021 at 06:41

    Emocionou, Tarcísio. Lamento imenso a sua perda. Parabéns a Wellington. Vida longa!
    Abraço
    João Lobo

  • Reply Tarcísio Neves 21 de julho de 2021 at 08:34

    Vai seguir em frente, meu amigo, com fé vem Deus!

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