opinião

UM POUCO DA HISTÓRIA DO JEITO COMO EU CONTO

21 de abril de 2019

RAMALHO LEITE

Foi graças aos votos de Solânea, em 1915, à época Vila de Moreno, que Solon de Lucena tornou-se liderança hegemônica no território de Bananeiras. O fato seria repetido comigo. Todavia, como deputado, não conseguia fazer muita coisa por Bananeiras. Clovis Bezerra não deixava. Ao contrário, em Solânea, minha prevalência era reconhecida. O governador Ivan Bichara pediu a minha conformação: “Vou dividir alguma coisa com você em Bananeiras, mas tenho que dar mais ao Clovis”. Aproveitei levando benefícios para Solânea enquanto tentaria conquistar a prefeitura de Bananeiras. 
Agora, firmado na cidade, meu pai tinha todas as credenciais para enfrentar a disputa e registrou sua candidatura. Apoiado pelos Bezerra, o promotor da comarca, José Francisco de Almeida venceria a eleição com 2.901 votos, enquanto Arlindo Rodrigues Ramalho, obteve 2.594 votos. Um resultado assustador para quem dominava o poder local desde sempre. A sublegenda que abrigou a candidatura de meu pai fez dois vereadores: Avelino Alves de Melo e Agápito Teixeira Muniz, além do solidário pmdebista, Antônio Mendonça Coutinho. Em Borborema, meu pai indicou José Florêncio de Lima, candidato único a prefeito, eleito com 704 votos, tendo como vice-prefeito o meu primo, José Rodrigues Barbosa.< /span>
Na minha oportunidade de reeleição, em 1978, engrossei as fileiras da dissidência arenista em apoio à candidatura para governador do deputado federal Antônio Mariz. O presidente Ernesto Geisel escolheu para governar a Paraíba o professor Tarcísio de Miranda Burity, então Secretário de Educação do Estado, sem nunca ter sido testado nas urnas. O povo torcia por Mariz, mas naquele tempo, o que o povo pensava não valia nada. 
Assim mesmo, segundo Elio Gaspari 
(…) o país de 1978 não se parecia com o que (Geisel) recebera em 1974 quando toda a imprensa estava sob censura e a direção do Partido Comunista e os guerrilheiros do Araguaia estavam sendo exterminados. As denúncias de torturas, que em 1975 haviam chegado a 585, caíram para 214.Pela primeira vez, desde o início do regime, o ano terminara sem que nenhum brasileiro morresse ou desaparecesse nos cárceres políticos. O Ato Institucional nº 5, a caminho do seu décimo aniversário, estava com os dias contados, pois Geisel anunciara o propósito de revogá-lo ao fim de um processo de negociação de “salvaguardas eficazes.
O processo de escolha dos governadores não diferia do sistema adotado pelos militares para ungir o Chefe do Poder Executivo da União. O presidente Geisel, que prometia uma abertura “lenta e gradual” antes de nomear seus delegados estaduais, pensava naquele que ocuparia sua cadeira. O general Euler Bentes Monteiro era estimado por ele, mas distanciara-se do Planalto, chegando a disputar a presidência, dentro das regras legais de então, ou seja, no Colégio Eleitoral formado por 581 parlamentares e delegados das Assembleias Legislativas. 
Também era cotado o paraibano Reynaldo Melo de Almeida, filho do imortal José Américo de Almeida, que comandara o I Exército. Os dois, Euler e Reinaldo, porém, não tinham a cumplicidade do general Golbery do Couto e Silva, chefe do gabinete civil da Presidência e principal articulador político do governo. A propósito, se o general paraibano esteve nas cogitações de Geisel para sua sucessão, teria sido eliminado pela máquina do SNI, comandada pelo general Figueiredo, o presidenciável in pectoris de Geisel/Golbery. O jornalista Carlos Castelo Branco contaria, em entrevista à revista Playboy, que o general Almeida “não foi presidente por causa das grava&c cedil;ões que o SNI fez de seus casos com mulheres”.  Uma causa de inelegibilidade até então desconhecida.
A escolha de Burity para governador biônico obedeceria aos mesmos critérios. Houve uma simulação de disputa com a audiência de lideranças do partido oficial e formalização de listas de candidatos. O governador Ivan Bichara fixara-se no nome do senador Milton Cabral, apoiado pelas bancadas estadual e federal. Conta-se que o ministro José Américo de Almeida, à época ainda influente e tendo o filho Reynaldo em posição de destaque no “comando revolucionário”, teria insistido com o sobrinho Ivan, que se despedia do cargo, para que admitisse outras opções. Ele tinha simpatia pelo deputado Antônio Mariz, mas não conseguira dobrar Ivan e o parti do, então presidido pelo deputado Waldir dos Santos Lima. Dessas démarches surgiria o nome do então secretário de Educação do Estado, professor Tarcísio de Miranda Burity..
A escolha de um governador pelos militares, divulgada com todas as pompas no rádio e televisão, era uma ordem a ser cumprida. Ninguém ousaria discordar. Quem se rebelasse contra a “revolução” teria o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos. Alguns ousaram enfrentar o regime e disputar na convenção do partido, pelo voto, confrontando-se com a indicação do Planalto. Mariz foi um desses, com alguns deputados que fortaleceram sua postulação. Nesse bloco, ao qual me filiei desde as primeiras horas, formaram ainda os deputados José Lacerda Neto, Edivaldo Fernandes Motta, Francisco Soares, Américo Sergio Maia, Tarciso Telino de Lacerda, Manoel Alceu Gau dêncio e Waldir dos Santos Lima, reforçados com o apoio dos ex-governadores Ernani Satyro e João Agripino.( O resto da história estará no meu livro ERA O QUE TINHA A DIZER, em breve nas livrarias)

Você pode gostar também

Sem Comentários

Deixar uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.