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Utilizado como ferramenta de comunicação no MPF, cordel é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Iphan

28 de setembro de 2018

Neste mês, a literatura de cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A decisão foi tomada no dia 19 de setembro, por unanimidade, pelo conselho colegiado do instituto. No Ministério Público Federal (MPF), além de o patrimônio público ser uma das áreas de atuação do órgão, o cordel também é uma ferramenta que ganhou recentemente mais espaço no MPF.

Exemplo disso é a recente campanha sobre as eleições de 2018 que o MPF tem divulgado em âmbito nacional. Combinando versos, palavras rimadas e imagens bem-humoradas, os cartazes da campanha abordam a importância, o sigilo e o poder de escolha do voto. De acordo com Cláudia Holder, analista de comunicação da Procuradoria Regional da República na 5ª Região (PRR5) e uma das criadoras da campanha, através do cordel, o órgão pôde se aproximar mais de toda a população.

“O MPF, embora seja, por assim dizer, o advogado da sociedade, acaba tendo essa linguagem muito técnica, às vezes, e as pessoas não compreendem ou acham chato. Então se a gente fala uma linguagem usando a cultura popular, usando termos e expressões regionais, para passar informações, eu acho que a gente chega mais junto da população, junto das pessoas a quem o MPF atende”, afirmou Holder.

Cordel estratégico – Em Pernambuco, além da campanha das eleições, Cláudia Holder também escreveu um cordel sobre a atuação do órgão em relação ao planejamento estratégico. “Foi ideia da nossa então assessora de planejamento estratégico que queria um material para distribuir no encontro da PRR5 e a Procuradoria da República em Pernambuco, para explicar certas questões importantes que algumas pessoas tinham certa dificuldade de compreender. E ela que deu a sugestão de fazer em cordel […] Então a ideia era passar esse conteúdo de uma forma simples e explicar aqueles termos [técnicos], mas também tornar aquilo atraente para as pessoas”.

Cordel paraibano – A Paraíba é um dos estados expoentes na prática do cordel e tal expressão também vem sendo utilizada pelo MPF tanto na comunicação interna como externa. O servidor Manoel Sá, técnico administrativo lotado na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, já produziu diversos cordéis para o órgão, abordando temas como outubro rosaviolência obstétricadireito eleitoraltransposição do rio São Franciscosetembro amarelo, processo jurídico-penal, dentre outros.

Manoel Sá começou a arte da rima em 1999, a partir do interesse pela literatura e poesia. O primeiro cordel veio das histórias de pelada pós-expediente. Depois da primeira obra, ele passou a trabalhar como assessor jurídico-penal do MPF e, assim, escreveu um cordel sobre esse o processo penal. Com a repercussão positiva no órgão, o cordel foi passado para os novos estagiários do setor por ser de fácil assimilação e Manoel foi convidado a escrever mais e mais cordéis para o órgão.

“A Assessoria de Comunicação do MPF na Paraíba (Ascom) pedia: ‘dá para escrever sobre tal assunto?’, aí eu estudava o tema e ia escrevendo”, disse. Manoel não produz rima de improviso, ele se dedica ao estudo do tema a ser abordado para poder escrever. “Eu aprendi muito, tanto de conteúdo quanto vocabulário. É preciso saber bem do que você vai falar e conhecer muitas palavras, até para rimar e entrar na métrica. […] Às vezes, uso algumas ferramentas da internet que me ajudam a encontrar palavras que rimam, mas o processo todo é de muito aprendizado”, concluiu.

Inspirado em Leandro Gomes de Barros – considerado o primeiro escritor de literatura de cordel e um dos maiores poetas populares do Brasil – o técnico administrativo agora tem interesse em aprender a técnica de xilogravura e, no futuro, lançar uma coletânea de todos os seus cordéis que estão sempre em processo de aprimoramento.

Sobre o cordel – Os cordéis são folhetos que trazem histórias curtas, escritas tradicionalmente em estrofes de seis versos rimados. O nome tem origem na forma como os folhetos eram expostos à venda, pendurados em cordas, em Portugal durante o período renascentista. Desde o surgimento até os dias atuais o nome se manteve, mas o cordel ganhou mais traços, sotaques e, agora, reconhecimentos.

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