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A andropausa

30 de abril de 2018

A notícia de que entrei na idade da andropausa me foi dada por João do Bar, o mineiro mais sem vergonha que eu conheço, quase cinquentenário  e, diga-se, bem conservado. Mas os sintomas ditos por ele bateram com os meus, de modo que só me  restou o recurso de aceitar a realidade inglória.

– Ora, meu chapa, a primeira sensação da andropausa é você passar de 15 dias a um mês sem ” vadiar” e não sentir falta -, disse-me ele, com a maior naturalidade do mundo. Mas advertiu, para evitar meu desespero: – Isso não quer dizer que, se você for insultado, não terá como reagir. Trata-se mais de fastio do que falta de disposição.”

E eu me incorporo as razões do amigo João. Se andropausa alcança quem chega aos 50/60, isso não quer dizer que os atingidos perderam o fogo da cama. Que o digam os exemplos locais e nacionais, a começar pelo ilustre don juan do Brasil, aquele que escondo o nome, mas que é doido por mulher. Quengou com as civis e com as de farda, capitãs, tenentes e meganhas, para mostrar que com ele tanto faz dar beijinhos como prestar continência, porque o válido mesmo é o moído entre as quatro paredes, o gemido sem dor e o fungado no cangote.

Temos, aqui na Paraíba, um time de primeira, todo formado por gente de 50, 60 e 70, com capacidade até mesmo para dar lições de tesão a jovens dos dias de hoje que não sabem mais elevar a mulher ao encanto dos céus. Preservo seus nomes para não suscitar ciúmes em suas consortes,mas todo mundo os conhece.

Consola-me, isso. Mas não nego que começo a sentir saudades de um tempo que a página do calendário escondeu. Foi naquela noite da inauguração do cinema de Princesa, eu deslumbrado feito matuto quando vê avião, sentado no banco ao lado de Marina, menina bonita, sonsa e fogosa, os dois olhando para a tela, até que ela, num gesto desprendido, colocou a mão sobre a minha perna. Fiquei gelado. E debaixo do gelo, galopei por todos os poros. E aí chegou a coragem para colocar a minha mão  na sua coxa. Foram somente 30 minutos, com a mão parada, sem mover um dedo, segurando aquele pedaço de coxa liso e roliço. Mas que me valeram um ano inteiro de pecados escondidos nos monturos, no banheiro, debaixo dos lençóis.

Vou parar de me lembrar para que não surja alguém dizendo que isso é conversa de velho. Saudade, meu caro, é sentimento arretado que invade o coração para mostrar que ali dentro, no bate e bate da emoção, a idade que conta é a da doce lembrança de momentos imortais.

 

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