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Fontinelli desfalca o time da velha guarda da imprensa

4 de janeiro de 2022

O time da velha guarda da imprensa está sumindo. Conta-se nos dedos os que ainda insistem em viver.

Hoje foi a vez de Zé Maria ir embora.

E Zé era tido e havido como imortal.

O único a descambar a casa dos setenta em busca dos oitenta com fogo de menino.

Ele mesmo se gabava disso.

Nas tertúlias do Manaira Shopping costumava contar vantagem, dizer-se forte, de muito gás. Pegava na chave, dizia Zé ostentando aquele sorriso maroto que o fazia mais novo do que a idade documentava.

Bosco Gaspar, de uma geração anterior, certa vez escreveu que jornalista morria novo, no máximo com 40 anos, por causa da vida noturna e dos problemas do coração.

Ele morreu novo, outros nossos conhecidos o seguiram, a geração imediatamente posterior também entrou na fila e, como já disse, conta-se nos dedos os que restam.

Zé morreu de câncer. Câncer de próstata. E olhem que ele era cuidadoso. Não recusava o dedo em riste de Walter Paiva ou de outro urologista mais oferecido. Se cuidava. Não bebia, tampouco fumava. Mas a idade tem por sentença botar defeito na próstata, a mesma próstata que nos tirou Crispim, quase nos tira Abelardinho e faz estragos nesse mundo de meu Deus,sem ligar para as campanhas e os testes oferecidos pelo setor de saúde.

Tempos atrás eu tinha por hábito ligar pra Chico Pinto quando morria algum colega. Ligava para dar a notícia e fazer terrorismo: “Tua senha é qual, Chico?” Agora não pergunto mais. Pode parecer brincadeira de mau gosto. Eu e Chico ficamos velhinhos, chegamos aos 70 e não dá mais para brincar de esconde/esconde com a morte.

Acredito que somente Jackson Bandeira não entra no time dos medrosos. Vai chegando aos 78 com o mesmo jeito de moleque travesso dos tempos de goleiro no time de Cajazeiras ou dos de repórter da Tabajara, quando tira faísca do calçamento com seus sapatos cavalo de aço à cata de notícias.

Foi embora Zé Maria. O time de lá continua crescendo e o de cá encolhendo. O de lá tem tantos que não dá pra contar. O daqui conta-se nos dedos.

E eu aqui com medo de olhar o número da minha senha.

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