opinião

GETÚLIO CONTA COMO FOI

20 de abril de 2025

RAMALHO LEITE
Não sei se é folclore ou verdade. Contam que Carlos Lacerda, designado para divulgar o movimento militar de 64 na Europa, ao chegar em Paris foi indagado: Que revolução é essa? Sem sangue? E ele teria respondido: revolução no Brasil é como noite de núpcias na França: não há sangue! Deixando de lado a bufonaria de Lacerda e mergulhando no Diário de Getúlio Vargas chego à conclusão de que a chamada Revolução de 1930 foi um passeio de trem e o sangue que deveria escorrer foi abortado em Itararé- a batalha que não houve.
Esperando que chegasse as cinco horas da tarde do dia 3 de outubro, Getúlio indagava o que “nos reservará o futuro incerto nesse lance aventuroso”. Sua preocupação seria dissipada logo depois com a disputa de uma partida de ping-pong com dona Darci, costume que se repetia diariamente. Começam os preparativos para se deslocar ao teatro das operações, no Paraná. E então escreve: (estou) “decidido a não voltar vivo ao Rio Grande, se não for o vencedor.” As notícias, principalmente do Norte, eram alvissareiras. O comando de Juarez Távora levou o Ceará e o Maranhão à rendição. Faltava a Bahia. E Minas começava a fraquejar. Somente no dia 11 de outubro, o trem começa a esquentar os trilhos na direção do Rio de Janeiro, parada final para alcançar o Palácio do Catete.
A travessia pelas cidades gaúchas é uma verdadeira apoteose. Em cada estação uma festa. A Revolução chegava a Getúlio pelo telégrafo. Inclusive, as apreensões dos chefes revolucionários, temerosos da ação dos militares, já organizados em Junta e que poderiam gostar da tarefa e não entregar o Poder a Getúlio. Este não se perturba. Com as filhas do prefeito de Ponta Grossa, vai a uma sessão de cinema. Chega a Curitiba e deixa o trem para assistir a uma peça teatral e comparecer a uma festa em favor dos combatentes. As mensagens que recebe dão conta da tranquilidade com que os espaços são ocupados pela Revolução. E revela: (a chuva)  “é esse o maior obstáculo que temos encontrado na marcha das operações”.
As mensagens de Osvaldo Aranha e de Gois Monteiro desanuviam as preocupações de que “os generais queiram aproveitar-se do nosso movimento indubitavelmente vitorioso para apoderar-se do Poder”. Getúlio manda Osvaldo Aranha para acomodar as coisas no Rio e comparece a um churrasco ao meio dia, nos arredores de Curitiba. À noite, participa de um baile e, quando dançava, foi interrompido pela chegada de uma missão da Junta Militar que lhe assegurava a entrega do poder. “O trem está marchando rapidamente”. A partir da Estação da Luz, chega o Trem Presidencial a mandado da Junta Militar formada após a deposição do presidente Washington Luiz.
Getúlio chega ao Rio e se hospeda no Palácio do Catete onde já o aguardava a esposa Darci, hospedada no Hotel Glória, mas de mudança para o centro do poder. Por todo o percurso, só ouvira música, vivas e foguetes. Não ouviu um tiro sequer. È nesse silêncio que visita no dia seguinte, o túmulo de João Pessoa. Aliás, nesses primeiros passos do Diário de Getúlio procurei um registro da participação da Paraíba no movimento sedicioso. Encontrei uma homenagem a João Pessoa, que substituiu o nome da Avenida Redenção, em Porto Alegre e a escolha de José Américo para Ministro da Viação, em face da recusa de Juarez Távora. Em 1931 concedeu audiência ao “ex-presidente Epitácio Pessoa que pleiteava a concessão do serviço de águas da Barragem de São Pedro para seu genro Edgard Raja Gabaglia”. Só sei que foi assim!

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