Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

0Vésperas de uma eleição municipal, um dos maiores fenômenos políticos de João Pessoa do século XXI, Ricardo Coutinho, não está sendo merecedor sequer de uma nota, divulgada pela mídia (crônica política), vinculando-o a uma das pré-candidaturas a PMJP. Foi desprezado por todos? Ninguém quer seu apoio? Esqueceram que Ricardo foi um dos fundadores do PT-PB, por décadas militante, envolvido com a juventude e meios universitários – esquerda raiz – e Lulista da primeira hora? Atitude mesquinha do PT/PB, que está rasgando um capítulo inteiro do livro da história da legenda na Paraíba.

O PSB-PB em 2004 era uma sigla nanica, atrofiada, sobrevivendo das migalhas – empregos e cargos no terceiro escalão da gestão Cícero Lucena (PSDB) prefeito da Capital – avultou-se como grande agremiação após a vitória acachapante, e em primeiro turno, do “Exército de Brancaleone” comandado por Ricardo Coutinho. Derrotou todos. Ruy Carneiro – candidato oficial de Cícero – do então governador Cássio Cunha Lima, apoiado também pelo presidente da Assembleia Legislativa, saudoso Rômulo Gouveia.

Prodígio inimaginável, encarado pelo núcleo tucano (PSDB) que comandava o Estado, como um tropeço, cochilo, falha, ao subestimar o adversário. Todavia previam um voo curto de apenas quatro anos. Ricardo não conseguiria governar. Esbarraria na “burocracia” estabelecida. Faltava nomes para formar uma “equipe” que materializasse suas promessas de campanha. Ledo engano. Ricardo criou o “Coletivo Girassol”.

Escolheu a dedo seus auxiliares, esquecendo a meritocracia. Mesmo inexperientes, eram valores latentes, que se revelaram. Registre-se em tempo: para Ricardo conseguir vencer em primeiro turno, o apoio do ex-governador José Maranhão contribuiu para “dourar a pílula”. Todavia, o “caixa” Ney Suassuna foi fundamental na reta final da campanha. Quatro anos depois (2008), Ricardo reelegeu-se com facilidade, dispensando o apoio de Maranhão. Escolheu como vice Luciano Agra, membro do “Coletivo Girassol”. Um excelente técnico que tinha correspondido às expectativas.

Confiando na “turma”, Ricardo aventurou-se a enfrentar José Maranhão, no governo, com poder de caneta, candidato à reeleição. Não sei se alguém ainda se recorda do marcante ou trágico episódio, ocorrido numa entrevista do governador José Maranhão na TV Correio. O entrevistador, ao chamar o intervalo comercial, esqueceu de checar o monitor. Dormitando, os operadores da mesa de controle ainda estavam com câmeras e áudios ligados. Indagaram Maranhão sobre a candidatura do então prefeito Ricardo Coutinho. Maranhão abriu um largo riso, e respondeu: “eu tenho até pena…” Mesmo sem redes sociais na época, o episódio “viralizou”. Ricardo explorou a condição de vítima da “Senzala Política” dominada pelo poderoso Maranhão.

Após a cassação de Cássio, Maranhão vislumbrou repetir 1998: ser candidato único. Quem iria enfrentá-lo? Equivocou-se. Ricardo quase o derrotou no primeiro turno (2010). No segundo, o “patrolou” com uma maioria de 160 mil votos. Na campanha, soube explorar o desejo de vingança do povo – sentindo-se traído com a cassação de Cássio – reeleito em 2006, derrotando Maranhão. Culpavam a influência do então senador, junto a Sarney e o TSE.

O pacto Cássio/Ricardo prosperou. Mas provocou solavancos no “Coletivo Girassol”, que já se insurgiu e aparentava ser mais forte que Ricardo. A presença dos Cunha Lima no governo, emplacando 10 dos 21 Secretários, feriu os brios de Roseana Meira, na época figura mais influente do grupo. Ricardo não a levou para o governo. Ela permaneceu na PMJP, cujo prefeito era seu ex-esposo Luciano Agra.

O grupo “rachou”. Ricardo só percebeu o veneno das cobras que havia criado, em 2012, nas eleições municipais. Sua candidata foi derrotada por Luciano Agra, que elegeu Luciano Cartaxo, tendo como vice Nonato Bandeira, seu ex-escudeiro. Afinal, quem manda no PT-PB? A legenda sofre de uma “acefalia”, semelhante à nacional? Janja manda mais que Gleisi.

Quanto a Ricardo, que como a “fênix” sonha em ressurgir das cinzas, se isto ocorrer deve evitar sua preferência por técnicos. Luciano Agra e João Azevedo tiveram comportamento disciplinar absolutamente idênticos. Mas, um puxou-lhes o tapete. O outro, o deixou apto entrar no Reality Show “largados e pelados”. Vida longa ao “Coletivo Girassol”

Transcrição de A Palavra