opinião

O TEMPO

7 de maio de 2023

 

Por GILBERTO CARNEIRO

O SINAL fechou. A reunião do meu amigo começaria em 15 minutos. Inquieto e apressado, olhou para mim e perguntou – “Você acha que chegarei a tempo”? – Observando suas mãos meio agitadas sobre a direção, respondi. – “Sim, se não se apressar”. Nervoso e ansioso, sequer prestou atenção na minha observação. Ao abrir o farol, acelerou o carro demasiadamente e, ao invés de dobrar à esquerda, seguiu reto, na direção oposta do seu destino.

O fato me fez recordar uma “história” que tive oportunidade de ler e que peço licença para contar aos ilustres leitores do “Blog do Tiao”, meu amigo honrado, que esta semana completou 45 anos de casados, com D. Cacilda, a última das moicanas. Feita esta introdução necessária, vamos à história. O famoso pintor chinês do século XVII da dinastia Ming, Chou Yung, tinha o costume de relatar um acontecimento em sua vida que mudou o seu comportamento para sempre. Numa tarde de inverno ele foi visitar uma cidade que ficava do outro lado do rio. Levava alguns livros e documentos importantes e tinha contratado um menino para ajudá-lo. Quando a balsa estava se aproximando da outra margem do rio, Chou Yung perguntou ao barqueiro se teriam tempo de chegar à cidade antes que os portões se fechassem, visto que estavam a um quilômetro e meio de distância e anoitecia. O barqueiro olhou para o menino, e para o pacote mal amarrado com os livros e documentos. – “Sim,” ele respondeu. “Se não se apressarem”.

Mas quando eles começaram a caminhar, o sol já estava se pondo. Temendo ficar presos do lado de fora da cidade, à mercê de bandidos da região, Chou e o menino apertaram o passo, disparando finalmente numa corrida. De repente, o barbante que segurava os documentos se rompeu e os papéis se espalharam pelo chão. Os dois levaram alguns minutos para refazer o pacote e quando chegaram aos portões da cidade já era tarde.

Quando você se apressa por medo ou impaciência, cria uma série de problemas que exigem conserto, e acaba levando muito mais tempo do que se tivesse ido com calma. As vezes, não agir diante do perigo é a melhor coisa a fazer – você espera, deliberadamente se acalma. Com o passar do tempo, acabam se apresentando oportunidades que você nem imaginou serem possíveis.

O tempo depende da nossa percepção da realidade, e como nós sabemos, pode ser alterada intencionalmente. Se um tumulto interno causado por nossas emoções tende a acelerar o tempo, controlando nossas reações emocionais o tempo vai andar bem mais devagar. Foi esta percepção que faltou ao meu amigo, caso tivesse controlado suas emoções não teria errado o caminho e haveria de chegar ao seu destino sem maiores contratempos, porém a sua pressa o prejudicou, pois como se diz no sábio provérbio popular “a pressa é inimiga da perfeição”.

A vida, em muitas situações, nos requer sangue frio, que não tenhamos pressa, embora nosso desejo seja de atropelar tudo. Esta maneira alterada de lidar com as coisas, de calma quando a situação aparentemente exige pressa, tende a estender a nossa percepção do tempo futuro, pois abre possibilidades que a raiva e o medo fecham, e nos dá a paciência, que é o principal requisito na arte de escolher o momento certo de agir.

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