opinião

ROBBIN HOOD

3 de setembro de 2023

 

Por GILBERTO CARNEIRO

OUTRO dia estava em um barzinho com um amigo quando entrou na pauta da conversa, puxada por ele, a questão atual da taxação dos super ricos, conforme proposta encaminhada ao Congresso Nacional pelo governo LULA, através de Medida Provisória.

Entre uma ou outra bebericada no chopp argumentava de forma apelativa que Lula queria dar uma de “Robbin Hood”, numa versão “miserável”, tirando dos que tinham pouco para dar aos que não tinham nada. Na sua visão equivocada a medida visava tirar da classe média, ou seja, dele, para dar aos pobres, e apontou um coitado que acabara de chegar às mesas pedindo uma ajuda para comprar comida. – “é justo deixar de tomar meu chopp para dar de comida a ele”?

Neste momento intervir e saquei da minha memória números de um estudo que me foi encaminhado por um primo, que reside alhures, auditor fiscal e dirigente do SINDIFISCO nacional, entidade sindical da qual faz parte, com dados do Imposto de Renda Pessoa Física de 2022, ano calendário 2021.

O levantamento é para lá de interessante e logo no seu título revela como vivemos no país das desigualdades sociais: “milionários pagam menos imposto de renda que professores, médicos e policiais”.

Segundo a pesquisa “contribuintes milionários pagam no Brasil alíquotas menores de imposto de renda do que profissionais de renda média e alta. Contribuintes que declararam em 2021 ganhos totais acima de 160 salários mínimos, ou 2,1 milhões no ano, ou 176 mil por mês) pagaram, em média, uma alíquota efetiva de Imposto de Renda de menos de 5,5%. É uma taxa menor, por exemplo, do que pagaram professores de ensino fundamental (8,1%), enfermeiros (8,8%), bancários (8,6%) ou assistentes sociais (8,8%) — profissionais que, na média, declararam rendimentos totais (soma dos salários e outros rendimentos) abaixo de R$ 94 mil naquele ano (menos de R$ 8 mil ao mês). Também foi menor do que a dos policiais militares (8,9%), cuja renda média total em 2021 ficou em R$ 105 mil (R$ 8.750 ao mês), ou do que a de médicos (9,4%), que declararam em média renda total de R$ 415 mil (R$ 34,6 mil ao mês).

O estudo revela que no Brasil, 7,6 milhões de brasileiros estão em situação de extrema pobreza: vivem em domicílios cuja renda per capita é inferior a 150 reais por mês. Isso equivale a 2,8% da população – segundo o IBGE, com dados de 2022. Em nosso país tropical, os 10% mais pobres pagam 26,4% da sua renda em tributos, enquanto os 10% mais ricos apenas 19,2%, dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Àquela altura o meu amigo me olhava fixamente, enquanto eu arrematava: – “não percebe que é o contrário? Esta medida beneficia a classe média, beneficia você. Pergunto, você se enquadra no patamar dos aquinhoados que recebem acima de 180 mil reais mês ou dois milhões ano? que possuem dinheiro de ruma nos fundos especiais e nos paraísos fiscais?

Então me olhou com aquela cara de espanto e respondeu: – “quem dera, queria ao menos receber 20% desse valor”. Olhando fixo nos seus olhos, fulminei: – ” qual a justificativa para ser contra a proposta? Não percebe que está, por ignorância, atentando contra seus próprios interesses”?

Meu amigo então desviou o olhar, pediu outro chopp, chamou o rapaz que assediava as mesas e lhe entregou cinco reais. Olhou para mim e, desconversando, perguntou se eu tinha assistido o jogo do Botinha.

 

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1 Comentário

  • Reply PASCOAL TEIXEIRA GAMA 6 de setembro de 2023 at 15:39

    Excelente…

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